“O que pretendo é dizer ao senhor Presidente quem são realmente os enfermeiros, o que é que eles sentem, que dificuldades é que tem e porque é que estão tão indignados, porque é que eles sofrem tanto e porque é que precisam da minha ajuda”, disse à agência Lusa Carlos Ramalho, que se encontra desde as 12:30 de quarta-feira em frente ao palácio de Belém, onde diz que estará em greve de fome até que sejam retomadas as negociações com o Governo.

O presidente do Sindepor confessou que “Ficaria muito satisfeito” se o encontro acontecesse, uma vez que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, é “uma pessoa sensível com um caráter humano muito forte e muito desperto para as questões sociais”.

Questionado sobre o anúncio do enfermeiro Duarte Gil Barbosa, do hospital de São João do Porto também iniciar uma greve de fome na sexta feira frente à Assembleia da República, Carlos Ramalho disse não o conhecer, mas saudou a sua atitude.

“Não o conheço, mas quero saudá-lo pela sua coragem, sei o que ele sente, o que ele pensou e o que é que vai pensar à medida que o tempo for passando”, disse o dirigente sindical.

Sobre como foram as primeiras 24 horas, Carlos Ramalho desabafou que não foi agradável, mas que é uma luta que tem de se fazer em nome dos enfermeiros.

“Agradável obviamente não foi, mas eu estou muito empenhado em manter a minha determinação e estou e continuar a representar os enfermeiros naquilo que prometi que era defendê-los até as últimas consequências”, sublinhou.

Carlos Ramalho contou que o carro tem sido o seu local de abrigo e que ajuda os polícias a fazer a ronda.

“Um bocadinho de humor também ajuda”, ironizou.

Durante este tempo, recebeu um e-mail do chefe do gabinete do Presidente da República a informar que estava disponível para o receber e que tinha à sua disposição corpo clínico da presidência para o caso de necessitar.

O Conselho de Ministros decretou a 07 de fevereiro uma requisição civil na greve dos enfermeiros em curso desde 31 de janeiro nos blocos operatórios de quatro centros hospitalares, alegando incumprimento dos serviços mínimos.

A “greve cirúrgica” foi convocada pela Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) e pelo Sindicato Democráticos dos Enfermeiros (Sindepor) em dez centros hospitalares, até 28 de fevereiro, depois de uma paralisação idêntica de 45 dias no final de 2018.

As duas greves foram convocadas após um movimento de enfermeiros ter lançado recolhas de fundos numa plataforma ‘online’ para financiar as paralisações, conseguindo um total de 740 mil euros.

Os principais pontos de discórdia são o descongelamento das progressões na carreira e o aumento do salário base dos enfermeiros.

A requisição civil foi contestada pelo Sindepor no Supremo Tribunal Administrativo, que se deverá pronunciar nos próximos dias.

No final da semana passada, o Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República considerou que a greve é ilícita, um parecer que foi de imediato homologado pela ministra da Saúde, ordenando a marcação de faltas injustificadas aos enfermeiros em greve a partir de hoje.

A ASPE pediu a suspensão imediata da paralisação, mas o Sindepor vai mantê-la e o seu presidente iniciou uma greve de fome.