29 de novembro de 2013 - 09h44
O diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/sida considerou “um contrassenso” pedir-se aos doentes para aderiram ao tratamento e, simultaneamente, existirem hospitais que criam condições para “uma menor adesão”, ao dispensarem a medicação só para uma semana.
“É um contrassenso e o tratamento já é suficientemente dispendioso para nós o estarmos a tornar ineficaz”, disse António Diniz em entrevista à agência Lusa, a propósito dos 30 anos do VIH/Sida, em Portugal, e do Dia Mundial de Luta contra a Sida, que se assinala no domingo.
As associações de apoio a doentes do VIH/Sida dizem que há pacientes que apenas conseguem levantar medicação nos hospitais para uma semana, apesar de haver um despacho do Ministério da Saúde que determina a dispensa para, pelo menos, um mês.
“É verdade. É uma situação que tem de ser ultrapassada”, disse o responsável, contando que foi realizado em 2012 um inquérito junto dos hospitais, para perceber o que se estava a passar.
Na sequência desse inquérito, foi publicado o despacho com os critérios da dispensa da medicação, cuja aplicação está a ser monitorizada.
Foi realizado, entretanto, um novo inquérito para verificar como o despacho está a ser aplicado nos hospitais, tendo já respondido “mais de metade dos hospitais”.
Os resultados servirão de base às medidas que serão tomadas “com vista, mais uma vez, a ultrapassar uma situação que pode acontecer”, mas que “desejavelmente” deveria ser “excecional”.
“Nesta altura, não é tão excecional como isso”, lamentou António Diniz, escusando-se a avançar as razões apontadas pelos hospitais no inquérito.
Para o responsável, é necessário “tomar medidas” para evitar esta situação, porque “senão é um contrassenso”.
“É um contrassenso estar a pedir às pessoas para aderir ao tratamento” - que é “vital” e assegura uma diminuição da transmissão da infeção na comunidade – e, ao mesmo tempo, “estarmos a criar nós próprios as condições para que as pessoas tenham menor adesão a esse tratamento”.
Para António Diniz, é estar “a criar condições negativas em cima de condições negativas que as pessoas já têm”: “Se têm dificuldades económicas em ir ao hospital para levantar a medicação, estamos a obrigá-las” a irem lá mais vezes, arriscando-se a que, “a certa altura, já não tenham capacidade".
“Pode não ser grave, quando acontece uma vez por ano, mas quando acontece duas ou três vezes por mês, é uma situação potencialmente geradora da falta de adesão das pessoas ao tratamento”.
António Diniz lembrou que uma diminuição da qualidade de vida, das condições económicas e o agravamento das condições sociais são fatores que favorecem o recrudescimento de novas infeções de doenças infeciosas.
Por estas razões, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) precisa de ter “uma estrutura forte e, por isso, é que não pode dar azo, por exemplo, a favorecer a não adesão dos doentes à terapêutica”.
A estrutura do SNS, que “tem dado uma excelente resposta”, tem de manter-se “suficientemente forte” para poder “abranger todas essas situações adversas e conseguir dar-lhes resposta”.
António Diniz disse ainda que os testes rápidos de diagnóstico já estão em aplicação em centros de saúde do Algarve, Lisboa, zonas Centro e Norte do país.
Para o responsável, esta é uma forma de os cuidados de saúde primários passarem a estar envolvidos no combate à infeção por VIH.
“A infeção VIH, por necessidade histórica, teve de estar muito focada nos hospitais, mas já é tempo de sair dessa atividade hospitalar”, comentou, acrescentando, “isto significa que é um pouco democratizar a infeção VIH nos cuidados de saúde”.
Lusa