O bastonário da Ordem dos Dentistas acusou hoje as empresas de seguros de enganarem os doentes visando unicamente o lucro, situação que pretende combater com a criação de uma tabela que define os atos medico-dentários.
“Acontece com alguns seguros de saúde em que o doente é absolutamente enganado. É vulgar haver seguros que publicitam tratamentos gratuitos, mas não há tratamentos gratuitos”, revelou Orlando Monteiro da Silva, em entrevista à agência Lusa.
O bastonário fala em casos de “falta de transparência” e numa “situação pantanosa”, alertando para a necessidade de criar legislação que enquadre os seguros de saúde.
“Estamos no reino da ditadura do elo mais forte, que são as empresas de seguros e de convenções, que pretendem impor as suas regras na prática medico-dentária visando unicamente o lucro”, lamentou.
O bastonário relatou que recebe queixas de várias pessoas que se convencem de que aderem a um plano de cobertura de saúde oral quando, afinal, apenas ficam abrangidas por meia dúzia de atos.
“Pretendemos uma uniformização de critérios para acabar com o livre arbítrio e fazer com que os doentes possam saber pelo que estão cobertos e possam comparar, escolher e decidir”, explica Monteiro da Silva, que vai deixar estas preocupações no XX Congresso da Ordem, que decorre em Lisboa até sábado.
Para isso foi criada uma tabela de nomenclatura dos atos próprios dos médicos dentistas, que abrange 786 atos, e que terá de ser adotada por clínicos, seguradoras e empresas de convenções.
Nessa tabela, que terá de ser adotada ao longo do próximo ano, serão detalhados todos os atos médicos para que a cada um possa ser atribuído um valor.
A Ordem dos Dentistas dá o exemplo de uma simples restauração de um dente, que na terminologia médica pode significar 46 atos distintos.
“Pretendemos certificar que todos, médicos, convenções e seguradoras, utilizam a mesma linguagem quando se referem aos tratamentos de medicina dentária”, refere Monteiro da Silva.
O bastonário aponta ainda o caso da ADSE (subsistema de saúde dos funcionários públicos), que diz ter uma tabela de atos cobertos “muito reduzida e desatualizada”, não permitindo sequer a realização de uma biopsia caso o médico suspeite de um cancro oral.
A Ordem dos Médicos pede ainda que seja criada legislação para regular e enquadrar o mundo dos seguros e das convenções: “As seguradoras não levam minimamente em conta a qualidade dos tratamentos. Visam condicionar apenas os doentes nos tratamentos a que têm direito”.
11 de novembro de 2011
@Lusa
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