"Não devemos recear a vinda dos refugiados da Ucrânia por nenhuma razão, inclusivamente em caso de pandemia, porque, felizmente, nós, ao contrário de uma parte importante do mundo, tivemos acesso à vacinação de reforço e isso confere-nos uma proteção acrescida", disse ao SAPO Lifestyle o médico Ricardo Baptista Leite.

Para o deputado social-democrata, o Governo deve coordenar esforços para acolher os refugiados: "Creio que Portugal deve preparar um plano de ação utilizando todo o seu sistema de saúde, do qual o Serviço Nacional de Saúde (SNS) é o coração, para se preparar precisamente para essa resposta", frisou.

"O impacto dos refugiados em Portugal nunca será, nem de perto nem de longe, equiparado àquilo que estamos a assistir na Polónia, com centenas de milhares de refugiados só naquele país", alerta.

Para Ricardo Baptista Leite, o Governo deve socorrer-se também do setor social e das associações para dar resposta ao fluxo de refugiados em Portugal: "Não devemos contar apenas com o SNS. Devemos envolver todo o setor social e envolver todas as organizações da comunidade. Devemos envolver todos os serviços privados em Portugal. Todos têm o dever moral de contribuir. Depende do Estado esse esforço de coordenação para garantir, de facto, uma capacitação do sistema para funcionar como um sistema único perante uma emergência, como aliás deveria ter acontecido durante a pandemia", defende.

Relativamente ao risco associado ao deslocamento de grandes massas populacionais não vacinadas contra a COVID-19 ou com taxas de vacinação mais baixas, admite que "os modelos matemáticos para a Europa demonstram que uma nova vaga pode surgir". "Mas isso é pouco relevante do ponto de vista da saúde pública. O que importa é o impacto que os casos podem ter no sistema de saúde, internamentos e mortalidade", assevera.

"Com a vacinação na Europa ocidental que temos atualmente, não se prevê que um aumento exponencial de casos se traduza num aumento relevante de cuidados intensivos e de mortalidade. Naturalmente, há sempre fatores de risco, como o aparecimento de uma nova variante", considera.

"Do ponto de vista humanitário, na fronteira à saída da Ucrânia, através dos corredores humanitários, deve garantir-se que quem não teve acesso à vacinação se possa vacinar e, eventualmente, garantir o acesso à testagem, sobretudo para os grupos populacionais de maior risco", acrescenta.

Enquanto presidente da rede UNITE, que lançou recentemente um repto a Governos e políticos em todo o mundo a propósito do conflito na Ucrânia e do fluxo migratório daí decorrente, Ricardo Baptista Leite pede medidas urgentes.

"No contexto da guerra e da invasão levada a cabo pela Rússia à Ucrânia, alertamos para um conjunto de riscos. Os países têm que tomar medidas urgentemente para mitigar os impactos na saúde da população ucraniana e dos refugiados. Estamos a organizar agora uma reunião com o conjunto de deputados ucranianos, precisamente para vermos também do ponto de vista político e diplomático onde é que podemos intervir mais", concluiu.