Os sinais de alerta do Cancro da Cabeça e Pescoço são a rouquidão, a dificuldade em engolir, as dores de garganta, a ferida na boca que não cicatriza, a dor de ouvido sem patologia do ouvido, a perda de sangue pela boca ou pelo nariz, o nódulo no pescoço, a dificuldade em respirar por uma narina, a deslocação do olho para fora da sua posição habitual, e por fim a falta de ar.

Ora estes sinais de alerta são frequentemente confundidos com outras condições menos graves, e por isso desvalorizados, pelo que o diagnóstico do cancro é muitas vezes atrasado.

Por exemplo a rouquidão provocada por uma constipação passa habitualmente ao fim de 7 a 10 dias, enquanto a rouquidão provocada por um cancro da corda vocal não melhora. Perante um sintoma ou sinal de alerta que não melhore ao fim de 2 a 3 semanas, o paciente deve recorrer a uma consulta de Otorrinolaringologia para se fazer o diagnóstico o mais rápido possível.

Diagnóstico precoce é fundamental

O diagnóstico precoce é fundamental no tratamento do Cancro da Cabeça e Pescoço porque permite muito melhores resultados em termos de cura, cirurgias mais pequenas e com menores implicações para os doentes. Um tumor pequeno numa corda vocal pode ser tratado com cirurgia laser sob anestesia geral, com internamento de um dia, apresentando uma taxa de cura que ronda os 95%. Enquanto nos tumores avançados da laringe o tratamento pode passar por combinação de Quimioterapia e Radioterapia, com taxa de cura de 70%. E nos tumores muito avançados o tratamento passa por uma cirurgia em que se retira toda a laringe e o doente passa a respirar por um orifício no pescoço.

Uma ferida na boca que não cicatriza, que esteja localizada na língua ou debaixo da língua, nos lábios ou na mucosa da bochecha é algo que o próprio doente, ou um familiar pode observar. Se essa ferida não cicatriza em cerca de 2 a 3 semanas é fundamental recorrer a uma consulta da especialidade de Otorrinolaringologia para ser observado. Neste caso será necessário realizar uma biópsia, de forma a ter o diagnóstico o mais precocemente possível. Este diagnóstico atempado pode significar a diferença entre realizar uma cirurgia pequena através da boca, ou ter de ser retirada uma parte grande da língua, com implicações para o doente no engolir e na articulação das palavras.

Um nódulo no pescoço pode ser sinal de um tumor maligno. A amigdalite aguda também pode ser acompanhada de gânglios aumentados e dolorosos no pescoço, mas normalmente melhora com o tratamento adequado.

Recorrer à consulta de Otorrinolaringologia

Um nódulo no pescoço de um adulto que não alivie em cerca de 2 a 3 semanas é muito suspeito de cancro da cabeça e do pescoço. É fundamental recorrer à consulta de Otorrinolaringologia, porque esse nódulo pode ser uma consequência de um tumor primitivo localizado na garganta. O seu médico irá observar atentamente a boca, o nariz, a garganta e a laringe (onde estão as cordas vocais) de forma a fazer um diagnóstico correto. O nódulo poderá ter de ser picado (citologia aspirativa) para se ter o diagnóstico definitivo. Com base nesse diagnóstico será decidido o melhor tratamento para cada caso.

É muito importante estar atento a sinais que se prolongam mais do que 2 a 3 semanas. Infelizmente, continuamos a receber doentes que não recorreram atempadamente às consultas e que têm tumores tão grandes que já notam dificuldade em respirar.

Recorrer à consulta de Otorrinolaringologia se os sintomas não melhorarem em 2 a 3 semanas pode fazer a diferença entre um bom resultado e um mau resultado. O diagnóstico precoce é fundamental!

Um artigo do médico Pedro Montalvão, Assistente Graduado Sénior de Otorrinolaringologia no Instituto Português de Oncologia de Lisboa e Coordenador da Unidade de Cancro de Cabeça e Pescoço do Instituto CUF.

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