A psoríase é uma doença imuno-inflamatória crónica relativamente comum, com uma prevalência estimada na população portuguesa entre 1,5 e 1,9%. Afeta igualmente homens e mulheres, podendo manifestar-se em qualquer idade, verificando-se contudo em 75% dos casos tem início antes dos 40 anos.

Esta patologia pode apresentar-se sob diversas formas clínicas, sendo as principais a psoríase crónica em placas, a psoríase gutata, a psoríase inversa, a psoríase pustulosa e a psoríase eritrodérmica. A psoríase crónica em placas (ou vulgar) corresponde à forma mais comum, representando cerca de 80 a 90% dos doentes. Caracteriza-se pelo aparecimento de placas avermelhadas, de limites bem definidos, de diferentes formas e dimensões, cobertas por escamas espessas, de coloração branco-cinza-prateado. A distribuição das lesões é habitualmente simétrica, sendo o envolvimento dos cotovelos, joelhos, couro cabeludo e região lombo-sagrada especialmente típico. As unhas podem também estar envolvidas, sendo o picotado ungueal o achado mais característico. A maioria dos doentes refere algum prurido que, em algumas localizações como o couro cabeludo, pode ser intenso e interferir com o sono.

O diagnóstico é habitualmente um diagnóstico clínico fácil, baseado na observação das lesões. No entanto, em casos atípicos ou duvidosos, pode ser necessário realizar uma biópsia cutânea.

Em aproximadamente um terço dos doentes, a psoríase associa-se a uma forma de artropatia inflamatória, a artrite psoriática, que pode afetar as articulações periféricas (por exemplo mãos e pés) e/ou esqueleto axial (coluna vertebral e bacia) e condicionar ainda episódios de entesites (inflamação dos locais onde os tendões e ligamentos se inserem nos ossos) e dactilites (inflamação das pequenas articulações das mãos e pés com edema periarticular, isto é, em redor da articulação). A psoríase está ainda associada a diversas comorbilidades: doença cardiovascular, síndrome metabólica (que engloba aumento perímetro abdominal, elevação dos triglicerídeos e do colesterol, hipertensão arterial e diabetes tipo 2), doença inflamatória intestinal, doença pulmonar obstrutiva crónica e doença psiquiátrica (ansiedade, depressão). Embora o mecanismo fisiopatológico responsável por estas associações ainda não esteja completamente compreendido, a inflamação sistémica objetivada nos doentes desempenha um papel fundamental no desenvolvimento destas comorbilidades.

Ainda não existe cura para a psoríase, mas nos últimos anos têm sido aprovadas várias terapêuticas que permitem tratar de forma cada vez mais eficaz os doentes. Os objetivos do tratamento são controlar os sinais e sintomas da doença, garantindo qualidade de vida e permitindo uma vivência pessoal, familiar, social e profissional indistinguível dos indivíduos não doentes.

As opções terapêuticas atualmente disponíveis são diversas, incluindo medicamentos tópicos, fototerapia e múltiplos tratamentos sistémicas (convencionais e biológicos). A escolha do tratamento depende de vários fatores como a localização e extensão das lesões, presença de artrite ou de outras comorbilidades, tratamentos prévios, expetativa do doente, impacto da doença na qualidade de vida, medicação concomitante, entre outros.

Assim, a abordagem ao doente com psoríase deve ser global e holística. O foco terapêutico nestes doentes deve incluir não só o componente cutâneo, mas também as possíveis doenças associadas, que devido à sua gravidade são frequentemente causa de diminuição da qualidade e da esperança média de vida dos doentes com psoríase. Para isso é muitas vezes necessária uma abordagem multidisciplinar, integrando cuidados de diferentes especialidades médicas. A escolha terapêutica deve ser individualizada, atendendo às particularidades e necessidades de cada indivíduo. Deve ser avaliado o impacto funcional, profissional e social que a doença acarreta para cada doente e integrar esses dados no algoritmo terapêutico.

Um artigo de opinião da médica Margarida Rato, dermatologista no Centro Hospital Tondela-Viseu.