Já é rapidamente reconhecida como uma doença de pele que provoca o aparecimento de algumas manchas avermelhadas no corpo. Apesar deste ser já um reconhecimento importante, a verdade é que há ainda muito para saber – e fazer – sobre a psoríase.

Para falar a verdade, estamos ainda muito longe de alcançar uma gestão da psoríase adequada àquele que é o real impacto da doençana vida dos doentes e no próprio país.

Estima-se que, em Portugal, a psoríase afete cerca de 200 000 pessoas. E, no entanto, apenas cerca de 100 mil pessoas estão dianosticadas e seguem tratamento. Entre os próprios doentes começa, muitas vezes o desconhecimento sobre esta patologia de evolução crónica, com um forte caráter estigmatizante e que, pela sua visibilidade e cronicidade, afeta a autoimagem e autoestima - conduzindo, frequentemente, ao desenvolvimento de quadros depressivos.

A psoríase é uma patologia com fortíssimo impacto na vida das pessoas que com ela convivem e tem consequências nos parâmetros sociais, afetivos e laborais que vão muito além da saúde física

Foi por reconhecer o elevado impacto que a psoríase tem como doença crónica, que a Organização Mundial de Saúde (OMS) promulgou, em maio de 2014, uma resolução sobre a doença, e incluiu-a na agenda de saúde global.

Em Portugal, até 2016, escasseavam os dados sobre a quem eram estes doentes e informação que permitisse uma avaliação da carga real e do impacto da psoríase na sua qualidade de vida e dia-a-dia.

Um primeiro passo foi realizado com o Estudo PeSsOa – Perfil Clínico-Epidemiológico e da Qualidade de Vida dos Doentes com Psoríase em Portugal, que consubstanciou, pela primeira vez, aquilo que a comunidade com Psoríase sabia há muito: a psoríase é uma patologia com fortíssimo impacto na vida das pessoas que com ela convivem – doentes, familiares e amigos. E tem consequências nos parâmetros sociais, afetivos e laborais que vão muito além da saúde física dos doentes.

Este estudo permitiu confirmar o peso financeiro que a gestão da psoríase tem para os doentes. Desde logo relativamente a custos diretos da patologia, com mais de metade dos doentes (51,9%) a ser seguidos na Dermatologia em hospitais e clínicas privadas, e a gastar em média 42,9 euros por mês com tratamentos e terapias coadjuvantes; mas também a custos indiretos, relacionados com absentismo laboral (43,9% dos doentes referem ter faltado ao trabalho para ir a consultas; 13% já faltou ao trabalho devido a sintomatologia associada à doença; em média, 18,8 dias por ano) e, em casos mais graves, desemprego ou reformas antecipadas.

É cada vez mais urgente a tomada de medidas para colmatar as lacunas atuais na gestão de doenças como a psoríase. Torna-se fundamental perceber como pode ser feito o reforço do papel dos cuidados de saúde primários de saúde no diagnóstico precoce, na referenciação e na gestão da doença, nos casos mais ligeiros. Torna-se fundamental facilitar o acesso às consultas da especialidade, nomeadamente pelo apoio da tele-medicina em dermatologia, uma medida em que a PSO Portugal se tem empenhado directamente. Torna-se fundamental implementar medidas que permitam diminuir o impacto financeiro da psoríase, seja no que se refere a produtos dermocosméticos, que não são comparticipados, ou na isenção de taxas moderadoras nos tratamentos com fototerapia.

Numa fase em que cada vez mais surge a necessidade de efetivar a gestão de recursos na saúde em Portugal, torna-se fundamental dar um passo em frente e trabalhar em medidas que, para além de beneficiarem os doentes no acesso a cuidados de saúde adequados, contribuam efetivamente para minimizar o desperdício de recursos importantes. Porque um diagnóstico adequado e atempado não significa uma gestão eficaz da psoríase.

Um artigo de Jaime Melancia, presidente PSOPortugal - Associação Portuguesa da Psoríase.