
O serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar de São João é um dos serviços, a nível europeu, que participa no estudo LEROS, um estudo de investigação clínica internacional, que decorre na Europa e nos Estados Unidos e que pretende avaliar a eficácia e segurança a longo prazo do único medicamento aprovado para tratar a Neuropatia Ótica Hereditária de Leber (LHON), o Raxone.
Esta patologia é rara, hereditária, incapacitante e provoca uma perda de visão rápida em ambos os olhos e, na maior parte dos casos, permanente.
São, ao todo, três os doentes portugueses incluídos neste estudo, a quem a doença foi diagnosticada há até cinco anos.
"É um estudo em que são avaliados os efeitos da administração deste medicamento durante um período de dois anos", explica Sérgio Silva Estrela, oftalmologista do Centro Hospitalar de São João, um dos médicos envolvidos no trabalho.
Que doença é esta?
A doença de LHON é uma doença genética mitocondrial. Apesar de ser a doença mitocondrial mais frequente e de ser a primeira com tratamento aprovado pela Agência Europeia do Medicamento, o atraso no diagnóstico é ainda uma realidade, para a qual alertou recentemente um grupo de especialistas mundiais, num documento onde se definiram as guidelines e critérios para a gestão clínica e terapêutica da LHON.
A LHON é atualmente entendida como a doença mitocondrial (que afeta a mitocôndria, o centro fornecedor da energia das células) mais frequente (uma em 27.000-45.000 pessoas), resultante de uma mutação genética, de transmissão materna, que afeta sobretudo jovens adultos do sexo masculino entre os 18 e os 35 anos.
Os doentes são normalmente assintomáticos, isto até à perda rápida e progressiva da visão central, com distorção e visão turva num dos olhos, a que se costumam seguir iguais sintomas, semanas ou meses depois, no outro olho.
Hábitos a evitar
A doença pode ser transmitida de mãe para filhos. No entanto, os hábitos de vida podem ter algum impacto na doença. "Existe uma teoria de que nos doentes que se apresentam muito precocemente, na adolescência, a doença é fundamentalmente genética. Ou seja, a carga genética é tão pesada que a doença se vai manifestar, havendo ou não fatores de risco de estilo de vida", explica Ana Fonseca, oftalmologista do Centro Hospitalar de Lisboa Norte. "E que, nos doentes que se apresentam mais tarde na vida, é o componente tóxico que faz com que a doença genética se manifeste".
Por isso, evitar hábitos como o tabaco ou a ingestão de bebidas alcoólicas, é sempre importante. "É importante nos jovens, porque a mitocôndria é a bateria energética da célula, portanto, tudo o que são tóxicos leva a uma degradação maior da função da mitocôndria e se a pouparmos, conseguimos garantir que há mais funcionalidade. Nas pessoas com mais idade, naqueles que sabemos que são portadores com alto risco de poderem vir a ter a doença, promovendo hábitos de vida saudáveis também garantimos que pelo menos esse é um fator que não vai contribuir para o despoletar da doença", alerta a médica.
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