O Governo garantiu ontem que a Agência do Ambiente está a acompanhar a evolução do nível de poeiras no ar, que esta semana aumentou em Portugal, e admitiu que poderá ser lançado um alerta caso a situação se agrave.

"Estando a Agência Portuguesa do Ambiente a acompanhar diariamente a evolução deste episódio de intrusão de poeiras do norte de África, poderá, em caso de observância de agravamento da situação de forma generalizada no território nacional e persistente no tempo, [lançar] uma ação adicional, concertada com [o Ministério da] Saúde, para a emissão de uma nota informativa à população, tal como em situações anteriores", disse à Lusa fonte oficial do ministério da Agricultura e Ambiente.

A mesma fonte referiu que a Agência Portuguesa do Ambiente divulga diariamente o Índice de Qualidade do Ar, que integra "as previsões de poeiras vindas do Saara".

Este mecanismo de informação, adiantou, "passa pela divulgação à população em geral, aos media, aos organismos de saúde e organizações de defesa do ambiente e outras do índice previsto e do poluente responsável pelo mesmo" e é "acompanhado de conselhos de saúde".

Admitindo que "as partículas em suspensão PM10 [partículas inaláveis com diâmetro inferior a 10 milésimos de milímetro] têm efeitos na saúde e têm um valor limite diário", a fonte do ministério adiantou não existir um limiar de alerta para as partículas, quer na legislação nacional quer na comunitária.

"Os limiares de alerta existem para o ozono, dióxido de azoto e dióxido de enxofre, cujos efeitos agudos se fazem sentir a exposições de curta duração (1h a 3h), e para os quais existem mecanismos de alerta", referiu.

O coordenador da área do ar do departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT/UNL), Francisco Ferreira, disse hoje à Lusa que o nível de poeira na atmosfera em Portugal ultrapassa, desde sábado passado, o limite aconselhável para a saúde.

Segundo o responsável, o nível de partículas de poeira no ar aumentou desde sexta-feira/sábado passados, devido a um fenómeno climático que leva o vento a arrastar as tempestades de areia do Norte de África.

"As estações de monitorização da qualidade do ar de todo o país revelam valores que estão a exceder os limites fixados pela legislação, não devido apenas à poluição relacionada com as atividades humanas, mas, sem dúvida, resultado deste fenómeno, que já dura há uns dias", afirmou.

O fenómeno deverá manter-se até ao próximo sábado e, no entender de Francisco Ferreira, já deveria ter motivado um aviso para que a população mais sensível tomasse precauções.

"As concentrações em jogo são bastante elevadas e, desde sexta-feira ou sábado, as populações mais sensíveis já deveriam estar a tomar algumas precauções", defendeu, acrescentando que "as pessoas mais idosas, as crianças e as pessoas com problemas respiratórios" devem evitar "esforços que exijam uma elevada taxa respiratória".

O problema, sublinhou, é o número de dias de exposição ao pó.

"Estamos a falar já de uma sequência de uma semana em que as pessoas estão expostas a elevados níveis de partículas que não deixam de trazer problemas para a saúde", lembrou.

Segundo Francisco Ferreira, "vários artigos científicos mostram que [este nível de poeira no ar] pode causar agravamento do risco de doenças cardiovasculares, problemas associados ao agravamento de alergias e problemas respiratórios".

Por isso, e como é habitual, o departamento de Ambiente da Universidade Nova de Lisboa avisou o Ministério do Ambiente.

"Nós fazemos um aviso, depois as entidades podem ou não resolver passá-lo à população", mas, "que eu saiba, não houve nenhum aviso" do Governo, concluiu Francisco Ferreira do departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da FCT/UNL.

28 de março de 2012

@Lusa