Uma alimentação variada, completa e equilibrada é caminho para uma vida saudável. Um percurso que tem de ser cumprido com base em informação e conhecimento, como defende Bárbara Oliveira, nutricionista e autora do livro 10 Passos para Comer Bem (edição Influência). A propósito deste lançamento editorial, conversamos sobre algumas das “ratoeiras” e mitos que acompanham a alimentação, como o tão desejado “corpo de sonho” ou aceitar, sem o benefício da dúvida, todas as dietas “milagrosas” com vista à perda de peso.
Segundo Bárbara Oliveira, o grande objetivo da vida é sentirmo-nos bem e felizes. Um caminho para a felicidade que não é destituído de uma boa saúde mental. Esta, sublinha a nutricionista, “está altamente ligada aos nossos comportamentos alimentares”.
Uma conversa com Bárbara Oliveira que não esquece o bem-estar do planeta através da alimentação e o percurso da mulher que, após a licenciatura em Ciências da Nutrição, praticou voluntariado ena Filipinas e apoiou, em Moçambique, um projeto na área da nutrição comportamental. O trabalho de Barbara pode ser acompanhado no site que, entretanto, criou.
A Bárbara quer contar-nos resumidamente alguns dos episódios da sua experiência internacional, nomeadamente na ONU, nas Filipinas e em Moçambique?
Sim. Em 2015, estive um mês a fazer voluntariado em Manila, nas Filipinas. Trabalhei em dois orfanatos onde desenvolvi algumas atividades relacionadas com alimentação saudável. Essa experiência “abriu-me o apetite” para mais experiências internacionais. Foi quando surgiu a oportunidade de fazer o meu estágio curricular na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, que tinha uma sede em Portugal e que trabalhava com a minha área predileta na altura, a Nutrição Comunitária. Neste estágio desenvolvi um projeto com o Conselho Português para os Refugiados que tinha como finalidade educá-los para uma alimentação saudável em Portugal. A paixão pela nutrição comunitária levou-me até Moçambique, onde trabalhei com a HELPO. Primeiro, desenvolvi um projeto de educação alimentar em três escolas na cidade de Nampula e, depois, trabalhei durante mais seis meses na ilha de Moçambique num programa de acompanhamento nutricional materno infantil.
De que forma esta experiência além-fronteiras influenciou a sua forma de olhar para a nutrição?
Muitas pessoas ainda acham que a nutrição e alimentação saudável servem só para perder peso. O peso é apenas uma consequência de uma alimentação saudável. Estas experiências permitiram-me abraçar muitos desafios que a área da nutrição, como a “desnutrição”.
Atualmente trabalha no projeto Consultas de Nutrição. Quais são as principais questões/problemas que os pacientes lhe apresentam?
As principais áreas em que trabalhamos e pelas quais as pessoas nos procuram são a perda de peso, o aumento de massa muscular, educação alimentar, alimentação vegetariana, alimentação em patologias, nutrição desportiva e nutrição materno-infantil
Os escaparates estão repletos de livros sobre cuidados na alimentação. O que distingue a obra que agora nos apresenta de demais títulos?
Neste livro trago dez simples passos (ver caixa) que podem ser implementados ao ritmo de cada uma. Trago também explicações básicas sobre alimentação saudável e várias áreas interligadas.
A Bárbara pode resumir-nos numa frase o que é uma alimentação saudável?
Sim. É uma alimentação completa, isto é, que inclui alimentos de todos os grupos. É variada, ou seja, que varia nos alimentos de cada grupo. Finalmente, é equilibrada, ao incluir em maior proporção, por exemplo, vegetais e fruta e menos alimentos fonte de gordura.
Uma alimentação saudável pode não ser equilibrada?
Não. Um dos pilares da alimentação saudável é o equilíbrio. Isto significa que há grupos de alimentos que devemos comer em maior quantidade, comparando com outros.
Faz sentido estar constantemente a contar calorias?
Na minha opinião isso é o trabalho do nutricionista. Salvo raras exceções em que existe a necessidade de fazer algumas contagens calóricas, porque existe a necessidade de se ser altamente regrado.
Dedica um capítulo do seu livro a mitos sobre alimentação saudável. Quer dar-nos dois ou três exemplos destes mitos? Quem os veicula?
Desmistifico alguns mitos ligados a questões como “para perder peso é necessário eliminar os hidratos de carbono?”; “posso comer ovos todos os dias?” e “o jejum intermitente é uma boa estratégia para a perda de peso?”. Estes mitos provêm de várias crenças que associam, por exemplo, os hidratos de carbono ao excesso de peso. As pessoas querem respostas rápidas e milagrosas, querem o mínimo esforço (ou, pelo menos, em menor tempo) e por isso, de vez em quando, surgem estas opções “milagrosas” que podem por em causa a saúde das pessoas.
A frase “corpo de sonho” é perigosa? Ou seja, está a deixar muita gente doente?
Sem dúvida. Defendo que o "corpo de sonho" é aquele que acolhe dentro de si uma pessoa saudável e feliz. E isso pode ser um corpo que, para uma pessoa, está impecável e, na opinião de outra pessoa, não tanto. Mas o que interesse é como cada um se sente consigo. E isto é algo que tem relação com a alimentação, mas muito mais com a nossa saúde mental.
Vivemos um período difícil no que respeita à economia doméstica. É possível manter uma alimentação equilibrada, diversificada e interessante, com um orçamento familiar curto?
Sim, principalmente se existir organização, um dos temas que incluí num capítulo do meu livro. Se nos conseguirmos organizar, isto é, planear uma ementa semanal, elaborar a respetiva lista de compras e comprar apenas o essencial, vamos evitar comprar coisas desnecessárias e conseguimos economizar. Para além disso, se a esta organização, juntarmos também uma alimentação variada e com maior quantidade de produtos de origem vegetal e reduzir o consumo de produtos de origem animal, conseguimos fazer uma alimentação económica e promotora da nossa saúde.
Ainda no seguimento da pergunta anterior: um dos aspetos que salienta no seu livro é a questão de uma alimentação comprometida com o bem-estar do planeta. É possível conciliar um orçamento limitado com uma alimentação que cuide do planeta? Pode dar-nos dois ou três exemplos?
Sim, se fizermos mais refeições vegetarianas e reduzirmos o consumo de produtos de origem animal, já estamos a poupar a nossa carteira ao mesmo tempo de promovemos a nossa saúde e a saúde do nosso planeta. Por exemplo, se confecionarmos uma Lasanha com lentilhas, caril de grão e legumes e um Bolo de banana com casca e sem ovo.
Por que razão contou com a colaboração de uma psicóloga clínica, a Sara Crispim, no seu livro?
Porque a saúde mental está altamente ligada aos nossos comportamentos alimentares. São estes comportamentos que definem, depois, alterações no peso que podem levar a problemas de autoestima ou problemas sociais. Estes últimos influenciam a nossa saúde mental, tornando-se um ciclo sem fim.
Se a nossa alimentação for saudável existe uma maior probabilidade da nossa saúde mental não ficar comprometida.
Se tivesse o poder de retroceder no tempo e influenciar a indústria alimentar, que alimentos evitaria que chegassem aos lineares dos supermercados?
Nenhum. O que “evitaria” seria a quantidade a que estão disponíveis. Como disse, acredito que tudo pode fazer parte da nossa alimentação, simplesmente nas quantidades certas. Acho que pode haver espaço para uma fatia de cheesecake no meio de toda uma alimentação variada, completa e equilibrada.
Receita concedida por escrito em novembro de 2022.
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