João Manuel Rocha já tinha tentado antes mas sempre sem êxito. «Sempre fui uma criança para o forte mas, a partir do quinto ano, com o stresse da escola e os testes, comecei a ganhar mais peso até ficar muito gordo mesmo. Durante cinco ou seis anos, fiz muitas dietas, algumas com acompanhamento de nutricionista, outras por conta própria», confessa.

«Perdia peso, mas voltava sempre a ganhar ainda mais quilos do que tinha perdido. Era bastante frustrante», acrescenta. «Não posso dizer que sofri muito por ser gordo. Nunca sofri bullying, por exemplo, mas olhavam-me de maneira diferente na rua e não tinha o mesmo à-vontade dos meus amigos. Namoradas nunca tive também», admite o jovem de 20 anos, natural do Algarve.

A entrada no programa

Um dia estava a ver televisão e calhou ver o anúncio para o concurso «Peso Pesado Teen», programa de televisão transmitido pela SIC. «Achei piada e inscrevi-me. Sempre a pensar que podia não dar em nada. Uma candidatura no meio de centenas. Mas fui selecionado», diz João Manuel Rocha. Quando entrou, não se quis pressionar.

«Já consegui chegar até aqui, se não avançar mais não há problema. A minha mentalidade era essa», revela. Só mais tarde é que começou pensar «Bem, já que cheguei até aqui, se me esforçar mais se calhar consigo ir mais longe», afiança. «Foi nessa altura que acordei verdadeiramente para o jogo e comecei a competir», afirma.

«Além de fazer os treinos programados, de manhã, levantava-me antes de toda a gente e ia correr. Depois do almoço, enquanto os outros estavam a descansar, voltava a treinar. No final do dia, ainda treinava mais um bocadinho. Aumentei muito os meus treinos, treinava quatro a cinco vezes por dia, sempre com base nos treinos dados pelo treinador, mas também com coisas da minha iniciativa», diz.

«Por exemplo, no meio das corridas podia ainda fazer agachamentos. O treino extra foi o que fez a diferença porque a dieta era igual para todos. Se um comia meia alface, o outro também comia meia alface. Se um comia 100 g de frango, o outro comia o mesmo», desvenda João Manuel Rocha.

Motivação para a atividade física

A perseverança de João Manuel Rocha acabaria por ser compensada. «Consegui fazer estes treinos extra também porque já gostava de desporto antes de ir para o concurso. Sempre fiz muito desporto mesmo tendo excesso de peso. Fazia air soft, um desporto de simulação militar, jogava à bola, fazia basquetebol e tiro ao arco», recorda João Manuel Rocha.

«O meu problema era não ter um estilo de vida equilibrado, era capaz de fazer isto tudo e estar o dia todo sem comer e à noite chegava a casa e comia quatro costeletas e um tacho de massa. Depois ficava a noite inteira agarrado ao computador e não dormia. Mas dava-me muito prazer fazer exercício. Tinha 130 quilos e fazia mais flexões do que muita gente magra», orgulha-se.

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Vontade de vencer

À medida que o tempo foi passando, a vontade de vencer acentuou-se. «Acho que o facto de já fazer desporto antes e ter fascínio pelo treino militar me ajudou. Tenho o sonho de ascender à carreira policial. A parte que gostei mais do concurso foi a do contacto com os fuzileiros. Poder interagir com eles e agir como eles deu-me motivação extra», assegura João Manuel Rocha.

A determinada altura, em vez de querer ficar só mais uma semana, começou a pensar «Quero ir até ao fim». «E fui!», regozija-se. «Mesmo com momentos de dúvida, porque também os houve. Uma vez estive doente com gripe e fiquei de cama dois dias, depois tive uma lesão e fiquei uma semana parado, tendo perdido menos peso do que era suposto», relembra.

«Mas mesmo nessas alturas tentei sempre fazer alguma coisa, se não podia treinar pernas, treinava braços. O que digo agora às pessoas que vêm ter comigo é que, se sabem que precisam de ajuda, arranjem um bocadinho de coragem e peçam ajuda, nem que seja aos pais. Aquele bocadinho de ajuda faz muita diferença», enfatiza.

«Também não podemos perder motivação a meio», aconselha. «Não podemos ficar tristes se perdemos só um quilo e antes tínhamos perdido cinco e usar isso como desculpa para trabalhar menos», sublinha o jovem de São Brás de Alportel.

«É preciso arranjar força de vontade para continuar de alguma forma. Uma das maneiras de fazer é olhar para o passado», assegura João Manuel Rocha. Durante o programa, os treinadores diziam-lhes «Lembras-te de como eras antes? Gostavas do que vias ao espellho?», revela. «Isto faz com que a gente acorde!», afiança.

Técnicas para queimar mais calorias

Antes do concurso, João Manuel Rocha já pesquisava os melhores exercícios para emagrecer. «Isso e coisas desse tipo porque sou uma pessoa bastante curiosa. Mas aprendi muito mais coisas no concurso com os treinadores, como as técnicas de treino intervalado, em que damos estímulos muito fortes ao corpo durante um tempo muito curto, seguido de repouso total durante um tempo curto também, isto em séries de sete ou oito, que fazem com que o corpo continue a queimar calorias mesmo depois de terminarmos os treinos», diz.

Autoestima aumentada

Nos primeiros meses de 2016, após o fim do concurso, está satisfeito mas receoso. «Claro que tenho receio voltar a engordar. Sei como as coisas são, a determinada altura é fácil começar a arranjar desculpas, seja porque não temos tempo ou outra razão qualquer. Mas até agora tenho conseguido manter o peso», revela.

«Hoje em dia, peso-me de semana a semana e uso balanças especializadas, que permitem ver a percentagem de massa gorda ou magra. Mantenho a alimentação que fazia no programa e treino todos os dias. Continuo feliz. Sobretudo, sou uma pessoa diferente, a cabeça mudou muito, entrei com confiança zero, não falava com raparigas sequer. Agora, a autoestima e a confiança estão em alta», assegura.

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O programa de televisão mudou radicalmente a vida deste trabalhador-estudante. «Tenho amigos que ficam pasmados cada vez que me veem e continuam a dizer-me que estou muito diferente. Já falo com raparigas e tudo. Se metem conversa comigo, respondo. Dantes, quando menos olhassem para mim melhor. Agora é ao contrário», afiança João Manuel Rocha.

«Estou constantemente a olhar-me ao espelho e a mostrar os meus músculos aos meus pais e aos meus amigos. Uma das coisas que vou fazer com o dinheiro do prémio é colocar um aparelho nos dentes. Aprendi a confiar em mim próprio e nas coisas que sou capaz de fazer. Antigamente, tinha medo de fazer coisas, agora, não há nada que me prenda e posso dizer que, finalmente, estou a viver a vida ao máximo», orgulha-se.

3 conselhos de vencedor:

- «Peçam ajuda. Ter um bocadinho de coragem para pedir ajuda pode fazer a diferença, tanto a profissionais como à família», recomenda João Manuel Rocha.

- «Mantenham a motivação. Lembrem-se porque querem emagrecer, recordem o sofrimento de ser gordo e por que não querem mais isso», afirma o trabalhador-estudante.

- «Aprendam e pesquisem por vossa conta sobre nutrição e exercício para perder peso. Mesmo tendo ajuda profissional, perceber sobre o assunto ajuda a manter a motivação», acrescenta ainda.

Texto: Bárbara Bettencourt com Luis Batista Gonçalves (edição internet)