Em declarações aos jornalistas à frente do centro de saúde de Odivelas, em Lisboa, onde se deslocou esta manhã para contactar com utentes, Paulo Raimundo alertou que não é apenas o mês novembro que “vai ser trágico” - como admitiu o diretor-executivo do SNS, Fernando Araújo -, uma vez que os últimos meses já têm sido “um drama”.
“Tudo o que aconteceu até agora e tudo o que vier a acontecer nos próximos tempos é da única responsabilidade política do Governo. E, portanto, o Governo devia olhar para este problema, para o drama, e tomar as medidas necessárias para evitar tudo aquilo que possa vir a acontecer”, declarou.
Paulo Raimundo advertiu que há “milhares de pessoas” em risco de “ficar sem tratamentos, sem consultas, com o que isso significa na saúde de cada um e nos riscos da vida de cada um”.
Questionado se acredita que vai haver um acordo entre o Governo e os sindicatos dos médicos na reunião deste sábado, Paulo Raimundo disse esperar que sim, salientando que “não há nenhuma razão para não se chegar a acordo”, mas manifestou ceticismo.
“Sinceramente, não estou a ver grande entusiasmo do Governo para esse efeito. Há aqui qualquer coisa que está mal explicada e há um arrastamento que não é compreensível”, afirmou, acusando o Governo de andar há 16 meses “a enrolar as negociações” com os sindicatos.
“O ministro pode-se pintar da cor que quiser, mas a prática é essa. (…) Estava esperançado que, perante a situação com que estamos hoje confrontados, ia ser diferente, mas pelos vistos não”, acrescentou.
Questionado se considera que as propostas feitas pelo Governo ao sindicatos são suficientes, o líder do PCP respondeu que “os sindicatos não têm estado de acordo com elas e, portanto, isso significa alguma coisa”.
Paulo Raimundo acrescentou que “não vale a pena o Governo tentar dividir utentes e profissionais”, salientando que os utentes sabem que os profissionais de saúde têm “grande qualidade, empenho e dedicação”.
“Podem vir com a pressão, a chantagem, mas isso não vai acontecer, porque os utentes sabem, por experiência própria, todos os dias, que encontram nos profissionais de saúde gente que se empenha para manter o serviço a funcionar”, disse.
O secretário-geral do PCP reiterou que o Governo parece estar apostado “não em resolver os problemas, mas em desmantelar o SNS” e defendeu que o que está em causa é “salvar o SNS do negócio da doença”, numa alusão aos privados.
Interrogado se considera que se está a caminhar para uma privatização no SNS, o secretário-geral do PCP disse que é a isso que se está a assistir, alegando que a proposta de Orçamento do Estado do Governo transfere cerca de oito mil milhões de euros “dos bolsos do Estado para o setor privado e para o negócio da doença”.
Paulo Raimundo defendeu que “há condições, há meios, há recursos e há dinheiro” para se investir no SNS, salientando que isso se vê quando o Governo decide “transferir dois mil milhões em benefícios fiscais aos grandes grupos económicos” ou “fechar os olhos” aos paraísos fiscais.
“Quando a opção é esta, é claro que a manta é curta e não dá para tudo. Quem fica sempre com os pés destapados são os utentes do SNS, é quem trabalha e trabalhou uma vida inteira”, disse.
Mais de 30 hospitais de norte a sul do país estão a enfrentar constrangimentos e encerramentos temporários de serviços devido à dificuldade das administrações completarem as escalas de médicos.
Em causa está a recusa de mais de 2.500 médicos em fazerem mais do que as 150 horas extraordinárias anuais a que estão obrigados.
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