No passado Domingo estava eu a cortar fruta da época quando a faca, após sentir a resistência do caroço, foi por ali abaixo sendo responsável por uma ferida incisa entre o primeiro e o segundo dedos da mão esquerda. Fiz compressão na tentativa de estancar aquela pequena hemorragia incontrolável e fui a um mini-mercado próximo da minha residência (que ainda pertence a familiares do primo do meu bisavô e, a ajudar, que seja a família) para comprar pensos rápidos. Disseram-me que não tinham e indicaram-me uns romenos empreendedores que estariam a fazer negócio de pensos num semáforo ali ao lado. Passei-me, claro. Qual é o mini-mercado que não tem pensos rápidos? Que país é este?

De imediato regressei a casa e fui buscar uma caçadeira que tinha em meu nome, voltando ao mini-mercado. Voltei a perguntar pelos pensos, o que me negaram existir, dizendo-me: «Vá comprar aos romenos que lá os pensos também "hadem" ser bons». Voltei a passar-me, claro. Uma coisa é não terem pensos, outra é assassinarem a língua portuguesa e aí tenho de agir em legítima defesa. Peguei na espingarda e atirei à queima roupa nos três funcionários - ainda familiares, portanto. De repente estava o mini-mercado envolto em sangue deles e meu, da força que fiz no corte ao segurar a espingarda para aprumar a pontaria, que é tão certeira como a mira do jacto urinário de um homem. "Sem querer ainda herdo o estabelecimento" - pensei, enquanto assistia à missa dominical, com a roupa salpicada de sangue. À saída, estava um aparato policial que me levou a pensar ser pelos abusos sexuais da igreja, nunca pelo que se tinha passado naquele mini-mercado. Eu, obviamente, neguei os factos ao mesmo tempo que os meus familiares metiam as mãos no fogo por mim.

Isto está tão em voga que até com a vida do Ronaldo querem acabar. Ele já disse que é preciso ter cuidado, talvez porque "cuidado" começa por cu

Isto parece uma história estúpida, certo? Mas podia perfeitamente ser mais um crime em território nacional. Portugal é um país incrível, com uma gastronomia exímia e pessoas inacreditáveis, mas ao nível do crime somos uns aldeões - sem desprestígio para os mesmos. Não sei se o objectivo do crime nacional ser péssimo é facilitar o trabalho da CMTV, mas se o propósito é promover a estação, parabéns, estão no bom caminho.

Reparem que houve uma tentativa de crime perfeito (pausa para rir), quando uma filha mata a mãe adoptiva para ficar com a herança e um duplex no Montijo. Quem mata por este motivo é bem capaz de, com o dinheiro herdado, comprar um T0 open space no Bairro do Aleixo, só para relaxar do stress do dia-a-dia ou comprar uma viagem para a Síria para espairecer a cabeça. Ela estudava Matemática Aplicada e foi tudo menos isso, já que fez mal as contas. O namorado, seu cúmplice, estudava Contabilidade e Gestão e soube fazer tudo menos gerir a situação senão, após o homicídio, não teriam ido alternadamente a uma bomba de gasolina onde ele comprou gasolina e ela um isqueiro. O intuito era enganarem a videovigilância, claro que a PJ nunca iria pensar que estavam envolvidos num crime. Pensariam, de imediato, que era um problema relacionado com drogas: ele cheirava gasolina e ela fumava estupefacientes. E saíam ilibados.

Pior que tudo isto é chamar a comunicação social e falar sempre no passado. Atestar a esperança de encontrar alguém com vida e falar num tempo verbal remoto faz tanto sentido como um homem atestar que percebe de maquilhagem e dizer que a melhor base é a das Lages. Não contente com o perpetuar dos erros, ainda pesquisaram no Google o melhor sítio para deixar o corpo, demonstrando um cúmulo de inteligência de fazer corar um galo.

Agora imaginem outra coisa. Imaginem que uma mulher altera um seguro de vida para, no caso da morte do marido, ficar com a casa paga e receber uma quantia avultada de dinheiro. O que é que acontece no dia seguinte? O marido desaparece. Ser elementar é uma coisa, ser coincidência é outra. Soube-se, posteriormente, que o marido teria sido morto em casa, na cama, com um tiro na cabeça enquanto dormia e foi encontrado onde? Junto a casa de familiares da esposa. Espantoso! Mais espantoso, ainda, foi a irmã da vítima dizer que metia as mãos no fogo pela cunhada, coitada. Ainda hoje deve estar na Unidade de Queimados, em convalescença, porque uma desgraça nunca vem só. Faltava encontrar a arma do crime pelo que, acredito eu, a PJ deve ter procurado no lixo, nos rios, no mato. Perante provas tão difíceis de explorar até então, deve ter ponderado ir a casa do amante da esposa da vítima e - pasmem-se - estava lá guardada. O que é perceptível: a vida está difícil para todos e os gambuzinos não se caçam sozinhos.

Cometer um crime com erros que demonstram um Q.I. de uma osga e, após provas explícitas, negá-lo é o mesmo que alguém ser acusado de ter matado outra pessoa à facada e alegar:

- É mentira. Eu ia com uma faca na mão para barrar manteiga no pão. Só que tropecei e, ao cair, espetei-lhe com a faca, sem querer. E pronto, foi assim sete vezes.

Quem organiza um crime nestes moldes deve imaginar um plano de fuga da prisão pela porta principal, certo de que a sua sapiência não os trairá, dado que inúmeras pessoas entram e saem sem serem detidas.

Já os estou a imaginar no recreio da prisão a jogar ao toca e foge com o Pedro Dias ou às escondidas com o Manuel Palito. A única que pode estragar este jogo é a cunhada que meteu as mãos no fogo, dizendo "rebenta a bolha".

Já os imagino a jogar ao kemps, a lutarem pela vitória com cómicos gestos:

- O Manuel Palito, esconde-se;
- O Pedro Dias esconde-se atrás do Manuel Palito;
- A mulher do triatleta faz o gesto de limpar o chão;
- O amante faz o gesto de registar o kemps em seu nome;
- A que matou a professora mostra dois dedos com uma mão e desenha um "M" no ar, numa alusão do dois a "duplex" e do "M" a "Montijo";
- O namorado dela faz o mesmo gesto, porque faz tudo o que ela fizer.

Quando todos saírem em liberdade, já os imagino a viver juntos na mesma casa, tipo república, com diferentes funções:

- A mulher do triatleta passa a vida a limpar a casa;
- O amante vai aos pássaros com uma arma em seu nome, contribuindo para o jantar;
- O Manuel Palito também ajuda nas refeições, fazendo as entradas com o apelido. Imagino que quando houver discussões sai de casa e, quando voltar, certamente que os ânimos já acalmaram, dado que passaram 34 dias. Há é uma grande probabilidade de ter que se apresentar outra vez, por já ninguém o conhecer;
- O Pedro Dias vai passear os cães e acaba por acampar sem tenda. Quando volta a casa, já abriu uma empresa de actividades radicais no mato;
- A que matou a professora, pesquisa no Google "onde depositar o corpo do namorado";
- O namorado também faz uma pesquisa no Google, mas agora diferente: "onde depositar o meu corpo quando a minha namorada me matar".

Isto está tão em voga que até com a vida do Ronaldo querem acabar. Ele já disse que é preciso ter cuidado, talvez porque "cuidado" começa por "cu". Anda nas bocas do mundo por ter, alegadamente, violado uma mulher obrigando-a a fazer sexo anal durante sete minutos. Pelo que, agora, CR7 pode querer dizer: "C" de Cristiano, "R" de rabo e "7" de número de minutos.

É assustador a banalidade com que se trata a vida. A forma como nos achamos deuses, com a capacidade de criar e destruir. Leva-me sempre a pensar na condição humana e na fragilidade desta linha temporal, dando um poder imensurável ao tempo. Com a forma vulgar com que se lida com a morte e o desprezo que se dá à vida não estranho que, em breve, entrem dois amigos num bar, fitem o balcão onde estão três homens e comentem:

- Estás a ver aquele ali?
- Qual? Estão ali três pessoas.
- O de t-shirt branca.
- Mas... estão os três de t-shirt branca.
- Oh, lá estás tu. O de calças de ganga.
- Mas têm os três calças de ganga.
- Ó pá, o de chapéu.
- Mas estão os três de chapéu!!!

Subitamente pega numa pistola e dá um tiro, matando os dois homens da ponta, ficando apenas um:

- Aquele!!!
- Ah, sim. O que é que tem?
- Qualquer dia mato-o.