A Autoridade Nacional do Medicamento esclareceu na terça-feira que o fármaco Tafamidis, para os doentes com paramiloidose, não evita o transplante hepático e aguarda conclusão de avaliação económica para ser comercializado.
O esclarecimento surge depois de um grupo de pacientes com paramiloidose, mais conhecida por “doença dos pezinhos”, ter estado na terça-feira no Hospital de Santo António, no Porto, a exigir que a unidade lhes ministrasse o fármaco, aprovado em novembro pela autoridade europeia do medicamento.
Os doentes alegam que se não tomarem o fármaco rapidamente terão de ser remetidos para transplante, uma situação que dizem querer evitar.
Em declarações à Agência Lusa, Jorge Torgal, presidente da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed), disse que o fármaco “tem muitas limitações, não evita a transplantação hepática”, só devendo “ser dado no início do aparecimento da doença”.
O responsável explicou que o Tafamidis, sobre o qual os laboratórios Pfizer compraram os direitos a outra farmacêutica, aguarda a conclusão da avaliação económica, que decorre num prazo legal até 60 dias úteis, antes de poder ser autorizada a sua comercialização em Portugal.
Jorge Torgal adiantou que os laboratórios apresentaram uma proposta “insustentável” de preço de medicamento, pelo que o Infarmed vai responder com uma contraproposta, esperando um acordo antes do prazo legal estipulado.
Ainda segundo o presidente da Autoridade Nacional do Medicamento, o Tafamidis, tal como outros fármacos que aguardam autorização de comercialização, “está disponível” para os hospitais, sob a forma de Autorização de Utilização Especial, num prazo de 48 horas, sempre que o seu uso se revele necessário para tratar “situações agudas”.
Sollari Allegro, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Porto, que agrega o Hospital de Santo António, alegou hoje falta de verbas para tratar com Tafamidis 106 pacientes com paramiloidose, remetendo a responsabilidade para o Ministério da Saúde, que delegou no Infarmed a prestação de esclarecimentos sobre o assunto.
De acordo com o responsável, que remeteu para a tutela a busca de meios financeiros para tratar os doentes, o fármaco custa 132 mil euros por doente/ano, sendo que, no caso do Centro Hospitalar do Porto, são mais de 13 milhões de euros por doente/ano.
O presidente do Infarmed assinalou que a proposta dos laboratórios Pfizer aponta para 135 mil euros o custo de um ano de tratamento de um doente com Tafamidis, num universo total de 250 pacientes.
“Um preço completamente desproporcionado, pouco admissível e abusador”, vincou Jorge Torgal, quando, acrescentou, em causa está um fármaco “único no mercado” com “muitas limitações”, que não evita o transplante hepático, que custa 110 mil euros por doente/ano e pode significar para o paciente uma sobrevivência de dez anos.
O responsável disse compreender “a angústia dos doentes”, lamentando “a má informação” que lhes foi transmitida, cuja proveniência alegou desconhecer.
A paramiloidose é uma doença neurológica, rara e sem cura, que se manifesta entre os 25 e 35 anos e é transmitida geneticamente, tendo como principais sintomas grande perda de peso, sensibilidade e estímulos.
Um dos primeiros sintomas é a perda de sensibilidade nos pés.
21 de dezembro de 2011
@Lusa
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