"Há circunstâncias que agravaram a premência nos cuidados nutricionais, como a pandemia, a guerra na Europa, com a pressão nos sistemas alimentares, mas também a inflação, que todos sentimos. E o Orçamento do Estado não tem nada que diga respeito à nutrição, o que é preocupante pois deve ser uma área de clara aposta", afirmou Alexandra Bento, sublinhando que "a maior parte da mortalidade está relacionada com maus hábitos alimentares e com o estilo de vida”.

A bastonária, que falava na comissão parlamentar de Saúde, onde hoje foram ouvidas diversas ordens profissionais da saúde, disse que “os números falam por si”, recordando que dos cerca de 4.800 nutricionistas só 5% estão no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“Há 160 nos cuidados de saúde primários e 180 nos cuidados hospitalares. Como é possível com 240 nutricionistas no SNS fazer face às necessidades da população?”, questionou a responsável.

Sublinhando que os 4.800 nutricionistas registados na Ordem “poderiam ser suficientes se estivessem no lugar certo”, Alexandra Bento apontou ainda a emigração como problema transversal a outros profissionais da saúde.

“100 saíram para países da União Europeia e outros 100 para outros países”, disse a especialista, considerando que é essencial “colocar nutrição no centro de atuação em saúde publica”.

Disse que na área da promoção de escolhas saudáveis “muito se tem feito”, mas considerou que, ainda assim, se corre "sempre atrás do prejuízo” e destacou a importância de controlar o preço dos alimentos.

“É importante controlar porque é um dos determinantes para escolher melhor e comer melhor”, disse a bastonária, que juntou ainda a necessidade de insistir na promoção da literacia em saúde, designadamente em saúde alimentar.

“Mas a nossa preocupação vai para alem do SNS. É preciso ter nutricionistas também nas escola e nos lares”, afirmou a responsável, que lembrou o concurso para contratação de 12 destes profissionais para os estabelecimentos de ensino: “É um início, é salutar e importante, mas claramente insuficiente”.

Defendeu ainda a necessidade de autonomizar a carreira de nutricionista e de valorizar estes profissionais, “para permitir condições justas e adequadas para o exercício da profissão”.

Sobre o Orçamento do Estado para 2023, destacou a “maior aposta financeira na saúde” e a consignação da receita no imposto das bebidas açucaradas para prevenção, mas diz que tais medidas serão insuficientes se não forem alocados recursos orçamentais de forma correta, considerando que a proposta orçamental “pode e deve ser melhorada”.