
"Isto vai exigir muitos testes e muitos erros, mas temos muitas opções para explorar", disse Benjamin Neuman, virologista da Universidade do Texas A&M, em Texarkana.
O trabalho apresenta-se complicado porque jamais se encontrou uma vacina muito eficaz para humanos contra patógenos da família dos coronavírus.
Veja como algumas das empresas do setor farmacêutico estão a trabalhar para derrotar o novo coronavírus:
Moderna
Objetivo: vacina
Possível disponibilidade: um ano e meio
O primeiro teste clínico para testar uma vacina começou esta segunda-feira, em Seattle, segundo as autoridades médicas americanas.
A vacina chama-se mRNA-1273 e é resultado do trabalho de investigadores dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e da empresa de biotecnologia Moderna, com sede em Cambridge, no estado de Massachusetts.
Os participantes deste teste deverão passar por diversas fases para determinar se a vacina é eficaz e segura.
A vacina utiliza informação genética de parte do vírus que adere às células para infectá-las.
Essa informação é armazenada numa substância chamada "RNA mensageiro", que transporta o código genético do DNA para as células.
O DNA é como um livro de referência numa livraria, e o RNA é similar à reprodução de uma página deste livro que traz instruções para se realizar um trabalho.
Se tudo sair como o previsto, a vacina poderá ser comercializada dentro de um ano e meio, caso a pandemia continue na próxima estação gripal, declarou o diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, Anthony Fauci.
Gilead Sciences
Objetivo: tratamento
Possível disponibilidade: próximos meses
De todos os medicamentos que poderão combater o coronavírus, o remdesivir, da empresa americana Gilead, deve ser o primeiro a ser comercializado.
O antiviral foi criado para combater outros vírus, como o Ébola, mas não teve resultado e ainda não foi testado oficialmente em campo.
Mas o remdesivir revelou-se promissor quando utilizado em pacientes com o novo coronavírus na China, segundo médicos, e já é utilizado em pacientes nos Estados Unidos e em França.
Gilead iniciou a última etapa dos testes clínicos na Ásia, conhecida como "Fase 3".
"No momento, há apenas um medicamento que pensamos possa ter uma eficácia real, e trata-se do remdesivir", disse em conferência de imprensa Bruce Aylward, funcionário da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo Fauci, este antiviral deve estar disponível "nos próximos meses".
O remdesivir modifica-se no corpo humano para se parecer com um dos quatro elementos constitutivos do DNA, os nucleótidos.
Quando os vírus se replicam, fazem-no "rapidamente e com um pouco de negligência", explica Neuman. O remdesivir poderá incorporar-se ao vírus numa destas réplicas e provocar mutações para o destruir.
Regeneron
Objetivo: tratamento e vacina
Possível disponibilidade: sem prazo definido
Regeneron desenvolveu no ano passado um medicamento administrado por via intravenosa, conhecido como "anticorpos monoclonais", que permitiu melhorar de maneira significativa a taxa de sobrevivência de pacientes com Ébola.
A empresa modificou geneticamente ratos de laboratório para que tivessem um sistema imunitário parecido ao dos seres humanos. Os ratos foram expostos ao vírus, formas atenuadas do vírus ou proteínas virais, para que produzissem anticorpos humanos, explicou à AFP Christos Kyratsous, vice-presidente de pesquisa da Regeneron.
Estes anticorpos foram isolados e examinados para se selecionar os mais eficientes, e depois foram cultivados em laboratórios, purificados e administrados em humanos por via intravenosa.
"Se tudo correr bem, e deve ser assim, nas próximas semanas poderemos saber quais são os melhores anticorpos", e os testes clínicos poderão começar no verão, segundo Kyratsous.
O medicamento poderá funcionar como tratamento e também como vacina, mas no segundo caso apenas com efeito temporário, já que os anticorpos não acabarão por fazer parte da memória do sistema imunitário das pessoas.
Regeneron tenta ainda combater a inflamação nos pulmões que ocorre nas formas mais graves do novo coronavírus. Para tal apresenta outro dos seus medicamentos, o Kevzara, destinado originalmente a tratar da artrite.
O Kevzara combate os sintomas e não o vírus.
Sanofi
Objetivo: vacina
Possível disponibilidade: sem prazo determinado
O grupo farmacêutico francês Sanofi uniu-se ao departamento de Saúde dos Estados Unidos para desenvolver uma vacina, utilizando "tecnologia de recombinação de ADN".
Esta consiste em combinar o ADN do vírus ao ADN de outro vírus - inofensivo - para criar uma nova entidade celular capaz de provocar uma resposta imunitária.
Os antígenos criados por esta operação podem ser posteriormente reproduzidos em grande escala.
Esta tecnologia é utilizada por Sanofi para a sua vacina contra a gripe. Graças às suas pesquisas sobre a SRAS, o laboratório acredita ter uma certa vantagem para criar rapidamente uma vacina contra o novo coronavírus.
David Loew, vice-presidente executivo e responsável do Sanofi Pasteur, acredita que poderá ter uma vacina em "menos de seis meses" e realizar testes clínicos dentro de "um ano, um ano e meio".
Inovio Pharmaceuticals
Objetivo: vacina
Possível disponibilidade: final de 2020
A empresa americana de biotecnologia Inovio trabalha desde a sua criação, em 1983, em vacinas ADN, que funcionam como as vacinas à base de RNA já mencionadas.
"Prevemos iniciar os testes clínicos nos Estados Unidos em abril e, pouco depois, na China e na Coreia do Sul, onde a epidemia afeta mais gente", declarou o presidente da Inovio, J. Joseph Kim.
"Temos a intenção de entregar um milhão de doses até ao final do ano graças aos nossos recursos e às nossas capacidades existentes".
Outras pesquisas
Como a Moderna, CureVac trabalha com a universidade de Queensland numa vacina com "RNA mensageiro". O diretor-executivo, Daniel Menichella, acredita apresentar uma vacina contra o coronavírus nos próximos meses.
O grupo britânico GlaxoSmithKline (GSK) colabora com uma empresa chinesa para colocar à disposição a sua tecnologia para a fabricação de adjuvantes para vacinas contra epidemias.
Os adjuvantes são agregados a algumas vacinas para aumentar a resposta imunitária contra infecções.
Nos Estados Unidos, a Johnson & Johnson planeia testar alguns dos seus medicamentos para ver se apresentam alguma resposta contra sintomas em pacientes já infectados pelo vírus.
A empresa trabalha ainda na elaboração de uma vacina com uma versão desativada do vírus.
A cloroquina, utilizada para tratar a malária, também poderia ser promissora contra o novo coronavírus, e vários cientistas defendem mais investigações com a substância.
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