Em declarações à Lusa, António Araújo afirmou que “em Portugal existirão no máximo dez, 12 doentes por ano para fazer este tipo de tratamento”.

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“A nós causa-nos alguma estranheza, por ocorrer numa altura em que não existe dinheiro para equipar as unidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS), nomeadamente com tomografias computorizadas (TAC) e com ressonâncias magnéticas. Está-se, logo à partida, a pensar gastar uma verba muito elevada num só aparelho, que pouco servirá ao SNS”, disse.

O oncologista e presidente da Ordem dos Médicos/Norte disse estranhar também que se aloque “uma verba de imediato de dez milhões de euros para os próximos cinco anos para contratar doutorados e médicos para este projeto, quando, por exemplo, a Fundação para a Ciência e Tecnologia [FCT] tem tido uma redução substancial de verba e tem reduzido muito o apoio a doutorandos e mestrandos investigadores em Portugal”.

“Neste momento, a FCT por exemplo não apoia mestrandos, apoia só alunos de doutoramento, com a redução de verbas que teve. Também causa aqui alguma estranheza alocarem logo dez milhões de euros para contratar estes investigadores”, frisou.

Dinheiro mal gasto?

Neste contexto, defende António Araújo, “em vez de se estar a comprar o aparelho, se calhar era mais importante estabelecer um protocolo de colaboração com uma unidade estrangeira que já tenha o equipamento, a fim de permitir, de uma forma muito mais fácil e célere, o tratamento aos doentes que necessitem de realizar este tratamento”. “Se calhar, poupávamos muito dinheiro”, assinalou.

O Governo criou, em outubro de 2017, um grupo de trabalho para a elaboração ou revisão das Redes Nacionais de Especialidades Hospitalares e de Referenciação (RNEHR), composto por peritos das várias áreas envolvidas, designadamente, na área de oncologia médica no sentido de haver indicação para instalar um centro de protões em Portugal, aliando a vocação médica assistencial com a investigação clínica, libertos de motivações comerciais.

“Ninguém tem conhecimento das conclusões desse grupo de trabalho, mas existe um projeto de legislação que está a ser discutido em conselho de ministros para aquisição desse aparelho e a constituição de uma empresa sem fins lucrativos que será sediada no IPO de Lisboa e terá forçosamente um polo no do Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa, e que terá a função de angariar verbas para investigação e para a manutenção desse aparelho”, afirmou o responsável.

Sublinhou que “o número de doentes indicados para este tratamento é muito reduzido porque, por ser um tratamento muito experimental, só tem tido indicação para patologias que são relativamente raras. Portanto, em Portugal existirão no máximo dez,12 doentes por ano a ter indicação para fazer este tratamento”.

Lamentou, assim, que “ninguém conheça o relatório final deste grupo de trabalho, que poderá dar uma justificação plausível para este tipo de investimento”.

“Ninguém sabe a que conclusão chegou relativamente ao número de doentes que beneficiaria desse tratamento, que tipo de investigação é que poderia ser realizada e que verbas é que seriam necessárias para a compra e para a manutenção desse equipamento. Há aqui toda uma serie de incógnitas”, sustentou.

António Araújo lamentou ainda que, “numa altura em que tanto de fala em descentralização (…), não se pondere sediar no Porto este equipamento”.

A agência Lusa questionou o Ministério da Saúde que disse não ter comentários a fazer sobre este assunto, que deverá ser discutido no próximo Conselho de Ministros, dedicado à Ciência.