“Os sistemas de transporte inter-hospitalar são muito maus, são muito fracos. Não temos ambulâncias para fazer isto e, no verão, estiveram dependentes dos bombeiros. Os bombeiros estavam nos fogos e não havia ninguém para transferir doentes entre hospitais. Isso não pode acontecer”, disse Alexandre Valentim Lourenço, à margem de uma visita ao Hospital de Portimão.

Sem estar assegurado “o transporte um doente crítico para o sítio onde ele deve estar, não é possível organizar serviços nem garantir segurança à população”, alertou o responsável, em declarações aos jornalistas, apontando um caso específico que afeta o Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), que gere os hospitais de Faro e Portimão.

“Temos uma ambulância de transporte de recém-nascidos, com um único médico que anda a passear de um lado para o outro – e que também é o responsável da unidade de Cuidados Intensivos de Neonatologia de Faro. Se ele estiver de serviço num lado, não pode transportar [doentes] para outro”, apontou.

Para o dirigente da Ordem dos Médicos, a resolução do problema que afeta os blocos de partos e urgências pediátricas em Faro e Portimão, que encerram várias vezes por dificuldade em assegurar escalas, poderá passar pelo encerramento de serviços e diferenciação entre as duas unidades.

“O problema do Algarve é que uma maternidade para esta dimensão é algo inexequível. O que tem de haver é uma reestruturação dos serviços: este hospital [de Portimão] tem de fazer uma coisa e o Hospital de Faro tem de fazer uma coisa complementar”, sustentou.

Se em Portimão fecham serviços “por falta de pediatras”, prosseguiu o responsável da OM, em Faro há “falta de obstetras, mas pediatras em número suficiente”, o que revela “um problema de estrutura e de organização hospitalar” que não se resolve com “pensos rápidos”.

Ainda carecendo de “um parecer técnico sólido do colégio da especialidade” da OM, Alexandre Valentim Lourenço referiu que Portimão poderá assegurar as consultas e o bloco de partos de programação e cesarianas eletivas ser assegurado em Faro.

“O que para nós é importante é garantir a qualidade e segurança da assistência de partos do Algarve. Se isso passa por fundir serviços e organizá-los de outra maneira, se garantir qualidade e segurança, a Ordem apoiará um sistema desses. Se essa fusão não garante a qualidade e segurança, tem de se arranjar uma alternativa”, acrescentou.

Em Portimão, o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos observou um hospital que está “bem equipado fisicamente”, até com espaços “melhores do que alguns espaços de hospitais da região metropolitana de Lisboa”, mas tem recursos humanos “muito pobres em termos de número para a qualidade e necessidade da região”.

“Há poucos médicos e médicos muito cansados. Tenho informação de, na Medicina Interna, ter uma médica que, em três meses, fez 350 horas extraordinárias. Isto significa que se transpuséssemos isto para um sistema anual, seriam mais de mil [horas extraordinárias]. É impossível ter sistemas que funcionem a longo prazo com estas condições. E é necessário fazer 350 horas, porque em vez de termos 15 ou 20 médicos, temos sete ou oito”, sublinhou.

O presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos manifestou-se também preocupado com o “impasse político e de decisão no Ministério da Saúde, que não ajuda a tomar decisões”, após a demissão da ministra Marta Temido, que se mantém no cargo ainda sem sucessão anunciada.

“É muito urgente, [o sucessor] já devia estar nomeado. Mais do que ter um novo ministro, é [urgente] termos um plano para, nos próximos anos, modificarmos e mudarmos o sistema de saúde de maneira a que corresponda às necessidades dos portugueses”, finalizou.