Numa conferência de imprensa realizada na sede da ordem em Ponta Delgada, Margarida Moura disse encarar a situação da unidade de oncologia do Hospital Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, com “grande preocupação” devido ao “burnout dos médicos” e à “dificuldade no acesso dos doentes às consultas”.

Segundo disse, existem seis médicos de oncologia nos quadros do HDES, sendo que dois estão de atestado e outros dois estão com o “horário reduzido devido a licenças de maternidade e paternidade”, pelo que “sobram dois médicos a tempo inteiro”.

“Os outros colegas asseguraram as consultas de doentes que estão em hospital de dia, mas as consultas de vigilância não foram realizadas por manifesta incapacidade. Há 300 doentes que estão há meses sem consultas e sem seguimento”, declarou.

Margarida Moura revelou que “houve uma semana em que só esteve um oncologista a trabalhar” naquele hospital da ilha de São Miguel.

A presidente da Ordem dos Médicos nos Açores alertou para o “esforço acrescido” dos médicos do serviço de oncologia, que “têm de assegurar as diferentes atividades clínicas do serviço”.

“Só para terem um exemplo da sobrecarga de trabalho a que estes médicos têm estado sujeitos, houve dias em que um dos médicos [agora] em ‘burnout’ chegou a observar em consulta entre 45 a 60 doentes de oncologia. Isso é uma enormidade. Ninguém aguenta isto”, apontou.

Salientando que alguns dos atestados “são de longa duração”, Margarida Moura defendeu que deveriam ser contratados mais médicos oncologistas.

“Sabemos que num médico em cansaço extremo a possibilidade de ocorrer em erros é muito maior”, lembrou.

Questionada sobre as responsabilidades da administração do Hospital, Margarida Moura afirmou que o “primeiro atestado de burnout” foi uma “consequência de atitudes que a administração teve para com o responsável da unidade” de oncologia.

Segundo a RTP/Açores, o responsável pela unidade de oncologia do HDES, Rui San-Bento, pediu uma baixa médica devido a ingerências e “atropelos” à sua gestão por parte da direção clínica do hospital.

“A ordem pediu uma reunião ao diretor clínico a 13 de outubro, precisamente para debater e manifestar a sua preocupação para com a unidade de oncologia médica. Até hoje, 28 de outubro, não obteve qualquer resposta”, revelou Margarida Moura.

A presidente da Ordem dos Médicos nos Açores alertou “para a necessidade de diálogo” entre a direção clínica e os médicos.

Margarida Moura disse ter a informação de que o HDES contratou “pontualmente” uma médica oncologista para observar 60 doentes em dois dias na “próxima semana”.

“Não há conhecimento de que haja um plano para a vinda regular de oncologistas para observar os doentes em atraso. Nem há conhecimento se esta médica que virá durante dois dias irá regressar posteriormente”, concluiu.

Ao longo dos últimos meses têm sido conhecidas várias divergências entre funcionários e a administração do Hospital de Ponta Delgada, o que levou o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, a defender a necessidade de corrigir alguns “problemas” na gestão da unidade.