Estamos a caminho de eleições legislativas!
Imprevistas porque havia uma maioria parlamentar absoluta, de um só partido e que cometeu a proeza de se não aguentar ao longo de menos de dois anos. Por razões que se ligaram a sucessivos escândalos e erros de escolhas da responsabilidade política e pessoal do Primeiro-Ministro. E que deixam no ar a ideia, bem clara, de que um partido único assume facilmente tiques de autoritarismo que provocam alguma saudade da “Geringonça”.
Não vale a pena escolher esse caminho.
É preciso, agora, ter cuidado com quem se manifesta muito sincero e apelativo a mais soluções do mesmo. Quem é verdadeiramente sincero, não é hábil…
Sabemos e tivemos no governo cessante um grande exemplo do que é a política.
A política tornou-se uma arte.
A arte de induzir os cidadãos – nesta fase ditos eleitores – a tomar gato por lebre é o que afasta a cada ano mais gente do uso do direito de voto. Por desilusão e por observação directa.
Percebem-se os partidos a tentar, por todos os meios – incluindo a mentira, o equívoco, o irrealismo e a tontice – atingirem os seus fragmentos e mercados de votantes.
Os Portugueses não são diferentes de outros povos europeus.
Mas certamente são mais sociologicamente crentes no Pai Natal e desejosos de quererem mais do que podem, ambiciosos para terem mais do que têm, esquecidos do País que já foram na História e no Mundo!
Além disso, os clientelismos – de toda a natureza e cores – não surgiram nos últimos meses e estão arregimentados por interesses orientados ou provisórias concertações estratégicas.
Ainda que o mais dramático diria eu, seja que o fim destes clientelismos não se possa prever para breve!
Assistimos à histeria de alguns candidatos a Primeiro-Ministro que, a todo o custo, pretendem ter razão.
Uns mais do que outros.
Evoco um que sabe ser difícil alinhavar dois ou três argumentos lógicos e consolidados em contas rigorosas, gritando a cada frase uma promessa, a todos tentando consolar e agradar, ainda que pareça condenado pelos concorrentes a um solitário caminho e destino.
Outro porém revela-se à vista desarmada, como um caso de dissociação psicológica perigosa e ruidosa, que fala e discursa anunciando como de futuro medidas que, se por um lado se tornam incompreensíveis depois de ter estado seis anos no poder sem as executar e conhecido por ter fraca memória, por outro lado deveriam merecer do País o repúdio por fazer tabua rasa do estado a que chegaram os serviços públicos do Estado. Tenta este acenar com o “desgastado diabo” e com o “passado”, ignorando – não por crença mas por estupidez – o que foi e ainda é a Troika em Portugal e o que foi o esforço patriótico que os cidadãos e o governo de Passos Coelho fizeram, antes mesmo de ainda assim ter voltado a ganhar as eleições em 2015, derrotando em campo António Costa!
Mas ninguém ouve falar em Reformas a sério.
Os eleitores vão ser chamados, se não se “encherem” entretanto, a tomar as suas opções e decisões finais.
Mas o Estado tem deveres constitucionais a cumprir.
E tem serviços inalienáveis, em parte ou no todo.
Educação. E que pensam os professores, os alunos e os encarregados de educação?
Agricultura. Os agricultores em pé de guerra e um governo ausente.
Justiça. E o que esperam os cidadãos e os agentes do sistema judiciário?
Defesa. Num mundo que cheira a ventos de guerra por todo o lado, que prenunciam conflitos de proximidade, Portugal não tem militares nem vocações, faltam recursos humanos e equipamentos para os três ramos das forças armadas. Com a GNR, enquanto força militarizada, faltou o respeito pela retribuição salarial…
Segurança. As primas-donas do governo semearam a confusão e as polícias não obtiveram um tratamento de igualdade por parte de quem advoga igualdade e justiça social…
Saúde. Um SNS em roda livre correndo para um precipício. Profissionais em escassez e um rumo perigoso que pode levar à morte do modelo ULS, mesmo antes de ter crescido. Uma consequência ou um efeito da política seguida em relação às assistências materno-infantil?
O eleitor tem sempre razão
Rui Cernadas
Médico de Família
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