“O corpo pode resistir à perda de peso”. A frase é o mote da mais recente campanha de sensibilização, informação e educação sobre obesidade. Para todos os que diariamente convivem com obesidade e excesso de peso, esta é uma frase que faz todo o sentido e sente-se na pele de quem trava uma luta contra a balança e as inúmeras complicações e estigmas associados a esta doença. Para todos os outros, esta frase pode até ser uma surpresa, pois muitos são os que ainda pensam que obesidade é uma escolha individual de cada um e não uma doença crónica, como tantas outras que em Portugal merecem (e bem) a devida atenção. Verdade. Muitos são os que “resistem” a considerar que a obesidade é fruto da indisciplina ou de comportamentos descuidados, que se trata com medidas de estilo de vida e prática regular de exercício físico. Esquecem que a obesidade – reconhecida como doença crónica em Portugal há mais de 20 anos – é uma doença crónica, multifatorial, complexa e recidivante e inflamatória que está associada ao desenvolvimento de mais de 220 doenças, incluindo 13 tipos de cancro. E que este “esquecimento” faz com que a obesidade seja, atualmente, uma doença subdiagosticada e subtratada em Portugal. Dados que se tornam ainda mais relevantes quando sabemos que no nosso país cerca de 2 em cada 3 adultos tem excesso de peso ou obesidade e mais de 28% da população adulta vive com obesidade.
É neste contexto que surge esta esta campanha da Lilly Portugal, que conta com o apoio de sociedades médicas e científicas relacionadas com a obesidade – com o apoio da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), Sociedade Portuguesa de Cirurgia de Obesidade e Doenças Metabólicas (SPCO) – e da Associação Portuguesa de Pessoas que Vivem com Obesidade (ADEXO), que dirijo e coordeno há 22 anos. Congratulo-me por esta iniciativa e orgulho-me de contribuir para a promoção e divulgação das mensagens desta campanha, cujo objetivo primário é o de motivar as pessoas com excesso de peso ou obesidade a procurar auxílio médico e opções de tratamento adequadas a cada caso específico.
Por tudo isto, não resisto a partilhar convosco esta campanha que pretende não só sensibilizar para os riscos e complicações associadas à obesidade, mas também mudar atitudes para diminuir os estigmas, preconceitos e ideias pré-definidas sobre esta doença que, infelizmente, ainda permanecem muito marcadas na opinião pública e na comunidade médica. Trata-se igualmente de educar e informar a população sobre as particularidades desta patologia, porque muitos são os que desconhecem que o tratamento adequado desta doença não contribui apenas para a perda de peso, mas contribui sim para a melhoria da saúde e qualidade de vida da pessoa com obesidade e excesso de peso, nomeadamente através da melhoria de complicações como a diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemia, entre muitas outras.
Não devemos, obviamente, descurar aspetos importantes como os hábitos de alimentação saudáveis e prática regular de exercício físico. Nada disso. Reforço que estas são medidas que todos (e não apenas as pessoas com obesidade) devem adotar, mas realço que é fundamental informar sobre as novas e inovadoras opções de tratamento atualmente disponíveis em Portugal e considerar a instituição de terapêutica farmacológica sempre que necessário.
O corpo resiste à perda de peso, há ainda resistências em tratar a obesidade como doença e há quem, como eu, não resista a deixar-vos estas palavras de apelo para que se juntem a nós nesta missão de lutar contra o estigma e proporcionar condições dignas de tratamento, com vista a melhorar a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas com obesidade e excesso de peso.
Deixo-vos o apelo: não resistam a aumentar o conhecimento, a atuar e a agir para mudar a forma como, ainda hoje, se olha para a obesidade em Portugal.
Um artigo de opinião de Carlos Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Pessoas que Vivem com Obesidade.
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