É importante fazer o diagnóstico numa fase precoce, pois sabemos que a sobrevivência depende da sua localização e estadio. A taxa de sobrevivência aos 5 anos é cerca de 10 vezes superior quando o tumor é detetado numa fase inicial, em comparação com a doença metastizada. Assume-se como o cancro com maior mortalidade em Portugal e no mundo.

Mas como o detetar numa fase precoce?

Esteja atento ao sinais de alarme e na sua presença recorra ao médico. São várias as doenças que podem causar sintomas parecidos e a procura de ajuda médica muda a evolução desta doença tão agressiva.

Os sintomas mais frequentes são a tosse, expectoração, a falta de ar. Manifesta-se também pelo aparecimento de sangue na expectoração, infeções respiratórias de repetição, dor torácica ao respirar ou tossir, alterações da voz, perda de apetite e peso sem causa aparente ou aumento de gânglios linfáticos.

Em alguns países, como por exemplo, no Reino Unido, existem programas de rastreio. O impacto do rastreio com Tomografia Computorizada de baixa dose foi demonstrado em diversos estudos, sendo os mais importantes o NLST (avaliou 53 454 pessoas) e o estudo NELSON (estudou 15 789 pessoas). Estes dois estudos demonstraram uma redução da mortalidade por cancro do pulmão que ultrapassa os 20%.

É importante estar alerta para estes sinais, pois mesmo em pessoas sem fatores de risco, a doença pode desenvolver-se.

Quais são os principais fatores de risco?

Entre os principais fatores de risco destacam-se o consumo de tabaco, a exposição ao gás radão, a partículas como o amianto, a substâncias químicas como o arsénico, a radiação, antecedentes de doenças pulmonares, como a bronquite crónica, e infeção pelo VIH (vírus da imunodeficiência humana).

Para os fumadores, o melhor conselho é deixar de fumar, pois desde logo diminuiu o risco de cancro do pulmão, e de outros cancros, bem como de outras doenças não oncológicas.

Após o diagnóstico de cancro do pulmão, o que esperar?

Para confirmar a suspeita são necessários exames como a biópsia que indicará o tipo de tumor.

Existem dois grandes “grupos” de cancro do pulmão: o cancro do pulmão de pequenas células (cerca de 15%) e grupo do cancro do pulmão de não pequenas células (cerca de 85%). Neste último incluem-se cancros como o adenocarcinoma ou o carcinoma epidermóide. Sabemos que alguns tumores do grupo “cancro do pulmão de não pequenas células” têm mutações que são alvos para tratamentos dirigidos.

Que tratamentos existem?

Os tratamentos vão ser distintos de acordo com o tipo de tumor, a localização e extensão do tumor (estadio) e características próprias do doente.

Na doença localizada recorre-se a tratamentos locais, como a cirurgia e a radioterapia, que registaram grandes evoluções técnicas nos últimos anos. Também a quimioterapia, a imunoterapia e as terapêuticas alvo demonstraram um papel importante na doença localizada. Assistimos ao desenvolvimento de terapêuticas alvo que após a cirurgia diminuem o risco de recorrência ou morte em 80%.

Na doença avançada, a imunoterapia, a quimioterapia e as terapêuticas alvo desempenham um papel preponderante no tratamento. O desenvolvimento da imunoterapia e das terapêuticas alvo veio revolucionar a abordagem desta doença, conquistando uma melhoria da qualidade de vida e da sobrevivência. Por exemplo, em doentes com cancro do pulmão de não pequenas células e doença avançada, o tratamento com imunoterapia isolada duplicou a taxa de sobrevivência aos 5 anos. Em doentes com cancro do pulmão, doença metastizada e mutações, a terapêutica alvo permite já uma sobrevivência mediana superior a 5 anos.

É de realçar que os cuidados paliativos, durante estas terapêuticas, ou isoladamente demonstraram aumentar a qualidade de vida e a sobrevivência.

Esta evolução terapêutica tem sido conquistada através da investigação e dos ensaios clínicos.

Neste dia – 1 de Agosto – em que se assinala o Dia Mundial do Cancro do Pulmão, a mensagem fundamental é de alerta para a importância de reduzir os fatores de risco e procurar o médico sempre que identifique sinais ou sintomas de cancro.

Um artigo de Fernanda Estevinho, médica oncologista do Hospital Pedro Hispano (Unidade Local de Saúde de Matosinhos).