O que significa não ter a asma controlada? Quais as principais consequências?

Um pouco por todo o mundo e infelizmente Portugal não é excepção, estima-se que mais de metade dos doentes não têm a sua asma controlada. Este conceito de não ter a asma controlada significa ter sintomas muito frequentemente (falta de ar, pieira, tosse e aperto torácico), limitações das atividades diárias, sintomas noturnos e despertares, bem como necessidade de medicação de alívio e também crises de asma. As consequências para o doente são múltiplas, desde o sofrimento inerente aos próprios sintomas e limitação das atividades, a perda de função pulmonar, os efeitos adversos associados à terapêutica necessária para controlar as crises e o risco de morte associado a estas mesmas crises. Para o sistema de saúde o não controlo da asma associa-se a um maior recurso a consultas não programadas, idas ao serviço de urgência e internamentos. A nível económico, para além do impacto direto resultado da sobreutilização de cuidados de saúde, há ainda que contemplar os custos associados ao absentismo e perda de produtividade das pessoas que têm a sua asma não controlada e que são muito consideráveis.

Quais os principais motivos para não ter a asma controlada?

Claramente que o principal motivo para não haver controlo da asma reside na não adesão à terapêutica de manutenção. As razões para esta má adesão podem ser múltiplas e individuais, sendo as principais a percepção errada de não haver necessidade de terapêutica quando não se tem sintomas, o esquecimento, o estigma ainda associado à terapêutica inalada, o não conhecimento da técnica inalatória e obviamente também razões de ordem económica.

A que sintomas se deve estar atento e quais devem motivar logo a procura de cuidados médicos?

O doente com asma pode ter os sintomas habituais (falta de ar, pieira, tosse e aperto torácico) de forma quase permanente com períodos de agravamento ou pode estar sem sintomas e estes surgirem de forma abrupta intensa. Em caso de agravamento franco dos sintomas ou caso estes surjam abruptamente de uma forma intensa com franca limitação das atividades estamos perante uma crise. Os doentes com asma deverão ter um plano escrito delineado pelo seu médico Imunoalergologista de como proceder nestas situações, mas deverão procurar cuidados médicos urgentes quando a situação tiver uma gravidade que ultrapassa o que está planificado. As crises de asma são situações que são urgentes e podem ser muito graves se não devidamente acompanhadas.

Um estudo recente mostrou que os asmáticos usam 3 vezes ou mais o inalador de alívio. Quais os riscos que correm? Como se explica este uso excessivo e inadequado?

Este estudo mostrou que, em média, os doentes avaliados adquiriam cerca de um inalador de alívio por mês. Este dado, embora seja similar aos resultados obtidos noutros países, é assustador e obriga-nos a refletir sobre o que fazer para proteger os doentes com asma que não estão controlados, o que os leva a recorrer em excesso à utilização de inaladores de alívio. Os riscos que correm com esta sobreutilização estão associados à perda de eficácia destes mesmos inaladores quando utilizados em excesso e a eventuais alterações da condução cardíaca que no limite se podem associar a risco de morte. Este uso excessivo claramente que denota que os doentes não estão controlados, têm sintomas e necessitam de algo que lhes dê alívio imediato, não percebendo muitas vezes o risco que correm e não tendo outra solução para o seu problema.

Há falta de literacia em Portugal sobre a asma, mesmo entre os doentes asmáticos?

A questão da falta de literacia sobre a doença é relevante e há que melhorar de forma clara o grau de conhecimento dos doentes com asma, pois este incremento de literacia está comprovadamente associado a melhor adesão à terapêutica de manutenção e consequentemente a um melhor controlo. No entanto há outras questões que também devem ser ponderadas, como o acesso a consultas especializadas, nomeadamente de Imunoalergologia, os custos associados à terapêutica inalada, bem como o acesso a medicamentos inovadores dirigidos às formas mais graves de asma.

O que falta fazer para melhorarmos estes indicadores?

A solução para este problema não é simples, necessita de intervenções em vários domínios. Em primeiro lugar há que modificar a própria percepção do doente relativamente à sua doença, ao seu não tratamento e aos riscos que incorre quando esta não está controlada. Num segundo nível há que intervir para melhorar o acesso a cuidados de saúde, a consultas especializadas que podem definir um plano personalizado e ajustado a cada doente para que haja um melhor controlo da doença e menor utilização de recursos de saúde. Por último há que sensibilizar a tutela para que este investimento nestes dois pilares, para além de melhorar a saúde e a qualidade de vida dos doentes com asma, acabará por diminuir os custos associados à própria doença, pois estes advêm sobretudo dos custos associados ao seu não controlo.

Numa situação de asma qual a importância do doente ter acompanhamento médico regular e especializado?

O acompanhamento médico regular e feito por médicos diferenciados no acompanhamento da asma é primordial. Só com este acompanhamento é possível definir um plano terapêutico ajustado às características do próprio doente e ao grau de gravidade da asma, bem como traçar uma estratégia colaborativa com o doente para as situações em que há agravamento dos sintomas. Será desta relação próxima, regular e individualizada doente-Imunoalergologista que poderá surgir um melhor controlo da doença.

Em que consiste a Campanha Quebra o Ciclo - Deixa a asma sem fôlego?

Esta campanha tem vários objetivos mas um dos mais fundamentais é chamar a atenção dos doentes com asma para os riscos de utilizarem em excesso os seus inaladores de alívio. Trata-se de uma realidade que já percebemos ser frequente, mas muito provavelmente, muitos dos que a vivem provavelmente desconhecem os seus riscos e, ainda mais, que podem de uma forma simples ter uma solução para este problema.

Quais os conselhos que pode partilhar para uma melhor gestão e controlo da asma?

O principal conselho é de que se tem asma e sente que esta não está controlada deve procurar o seu médico Imunoalergologista. Por outro lado, mesmo que ache que a doença está controlada se tem sintomas diários, se utiliza inaladores de alívio várias vezes por semana ou se tem limitações das suas atividades diárias pela asma, esta provavelmente não está controlada. Numa consulta de Imunoalergologia é possível avaliar o controlo da asma, a sua gravidade e definir um plano terapêutico em conjunto com o seu médico que, no final, possa permitir um controlo da doença e a recuperação da sua qualidade de vida.