"Batazu", como era conhecido nas redes sociais e fora delas, sofria de leucemia mieloide aguda. Em novembro, os pais pediram ajuda publicamente para pagarem ao filho, Tomás Lamas, um tratamento no âmbito de um ensaio clínico experimental na China. A solidariedade dos portugueses permitiu angariar 350 mil euros em quatro dias.

Esta quinta-feira, a família informou através da rede social Instagram, na qual têm mais de 40 mil seguidores, o pior desfecho.

"O nosso filho já não está entre nós e partiu sem sofrer! Ainda teve nos seus últimos momentos um toque de génio", escreveram, na qual partilham um episódio em que Tomás chamou aos pais "gummy bears", ursinhos de goma, em tradução da língua inglesa. A família diz que estas "foram as suas últimas palavras de amor".

A criança faleceu na quarta-feira, em Pequim, onde estava hospitalizada. "Deu-nos uma lição de vida de como estar sempre alegre e pronto para lutar", disseram ainda numa publicação acompanhada de um vídeo partilhado na referida rede social.

Diagnóstico de leucemia mieloide aguda

Tomás foi diagnosticado com uma leucemia mieloide aguda em 2021. Fez tratamentos com quimioterapia que não funcionaram. O pai, Tomás Lamas, médico intensivista no Hospital Egas Moniz e na CUF Tejo, procurou ajuda fora de Portugal.

Foi em Israel que a criança fez o primeiro tratamento com células Car-T, um tipo de imunoterapia que poderia abrir caminho para um transplante.

No entanto, a doença não deu tréguas e a possibilidade de transplante - que seria feito a partir da doação de uma das duas irmãs da criança - foi posta de parte.

Os pais de Tomás Lamas procuraram ajuda na China, onde o menino se encontrava a fazer tratamentos no Hospital Jingdu, depois das doações monetárias de milhares de portugueses.

Que doença é esta?

A Leucemia Mieloide Aguda (LMA) é um cancro raro e agressivo do sangue e da medula óssea que interfere no desenvolvimento de células sanguíneas saudáveis.

Este processo, ao impedir a produção normal de células sanguíneas, dá origem a sintomas como anemia, infeções, fadiga, hemorragias e febre.

"Com sintomas pouco específicos, a LMA pode ser confundida com outras doenças, incluindo doenças infeciosas como gripe ou COVID-19. É por isso crucial estar atento aos sintomas e fazer um diagnóstico correto de forma a dar uma resposta atempada. Afinal, a LMA é a mais comum das leucemias agudas do adulto e é responsável por cerca de 25% dos casos de leucemia", explica a médica hematologista Maria Gomes da Silva ao SAPO.

A LMA afeta tanto adultos como crianças mas a sua incidência aumenta com o envelhecimento e a sobrevivência pode ser limitada.

"Conhecem-se hoje múltiplas alterações genéticas nesta doença, que ajudam a caracterizá-la e podem ter impacto nas escolhas terapêuticas. Por exemplo, aproximadamente um terço dos doentes terá uma mutação no gene FLT3, o que poderá resultar numa progressão mais rápida da doença, com mais taxas de recaída e menor sobrevivência que outras formas de LMA. A caracterização genética é hoje parte importante dos estudos iniciais da doença e contribui para garantir que os doentes tenham maior probabilidade de sobreviver", refere ainda a especialista.

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