Apesar de ser praticamente impossível contabilizar os prejuízos que a crise mundial que se arrasta desde 2008 já provocou, há dados concretos que ajudam a fazer algumas contas. De acordo com um estudo publicado na revista britânica The Lancet, desde 2008, em apenas oito anos, morreu meio milhão de pessoas com cancro devido à austeridade e ao desemprego. Esse é, pelo menos, o valor avançado pelos investigadores do Imperial College em Londres, em Inglaterra.

«Descobrimos que a subida da taxa de desemprego está associada à mortalidade por cancro mas [até aqui] a cobertura [dos seguros] de saúde protegia a população contra os seus efeitos», justifica Mahiben Maruthappu, coordenador do estudo. Só entre 2008 e 2010, nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), foram recenceados 260.000 mortos nessa situação.

Desses, 160.000 eram cidadãos da União Europeia. Os especialistas vão ao ponto de associar a subida da taxa de desemprego ao aumento da mortalidade por cancro, afirmando que o aumento de 1% faz aumentar o risco de morte em 0,37 por cada 100.000 habitantes. «Em muitos países que não têm apoio social, o acesso aos cuidados de saúde depende, muitas vezes, da existência de um contrato de trabalho», defende o estudo.

«Sem emprego, os pacientes são, provavelmente, diagnosticados mais tardiamente e [em consequência disso] beneficiam de um tratamento pior ou retardado», pode ler-se ainda no documento. O cancro está, no entanto, longe de ser a única causa de morte a agravar-se em períodos de crise económica. Um estudo publicado em França em 2015 assegura que as políticas de austeridade fizeram disparar o número de suicídios no país.

Texto: Luis Batista Gonçalves