A concentração foi marcada por uma canção entoada em uníssono pelos médicos e cuja letra destacava “Manuel Pizarro és muito hábil a falar, mas para salvar o SNS é preciso contratar”.

Presente na concentração, Tânia Russo, dirigente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), que convocou a greve de dois dias, não especificou os dados de adesão à paralisação, mas disse que "é elevadíssima".

Segundo Tânia Russo, a greve está a afetar consultas e cirurgias, em hospitais e centros de saúde de todo o país, o que disse manifestar “o descontentamento dos médicos e a necessidade de olhar para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e tomar as medidas que são necessárias”.

“Os médicos estão de facto zangados com aquela que tem sido a atitude do Governo perante as nossas reivindicações, é preciso entender que as reivindicações dos médicos respondem aos problemas do Serviço Nacional de Saúde e aos problemas das pessoas que a ele tem de recorrer diariamente”, disse a dirigente sindical.

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“O Governo não pode continuar a gerir o Serviço Nacional de Saúde desta forma autocrática e impondo o encerramento de serviços, impondo a demissão de diretores de serviço, de diretores clínicos, obrigando os internos a fazer horas de urgência para além daquilo que é suposto fazerem por lei e prejudicando a formação”.

Os médicos exibiam autocolantes, com várias mensagens dirigidas ao Governo, como “É preciso cuidar de quem cuida”, “É preciso salvar o SNS” e “Sou Médico, Quero condições de trabalho digno”.

Médico interno de Saúde Pública, João Durão fez questão de participar no protesto para manifestar o seu descontentamento com as propostas apresentadas pelo Governo ao fim de 14 meses de negociações com os sindicatos, "que não leva a crer que haja uma intenção séria de melhorar as condições da formação médica, as condições do SNS, as condições da saúde em geral”.

“Enquanto médico que tem ainda 30 ou 40 anos pela frente gostava muito de ficar no SNS, gostava muito de ficar no meu país, mas [o Serviço Nacional de saúde] não vê futuro nenhum. Acho que aqui falo por quase todos os meus colegas, senão mesmo por todos, em relação a este sentimento de desespero e desesperança face ao futuro”, disse o jovem médico à agência Lusa, lamentando que a sua especialidade tenha sido “completamente ignorada” pelo Governo nas negociações.

Também presente na concentração, Ana Dantas, médica na Unidade de Saúde Familiar de São Martinho de Alcabideche, ACES Cascais, disse à Lusa que é a primeira vez que faz greve e que participa num protesto.

“Acho que isso só por si diz muito daquilo que está a passar-se com o nosso serviço Nacional de Saúde. É um momento de viragem em que nós temos todos que nos unir pelo serviço em si. Não estão aqui só em questão os médicos, o nosso horário, o nosso vencimento, as nossas condições de trabalho está sobretudo o Serviço Nacional de Saúde, que nós sentimos que nos está a fugir e todos nós somos utentes do nosso próprio serviço e estamos aqui, sobretudo, para defender a continuidade e a qualidade do nosso serviço Nacional de saúde”, declarou Ana Dantas.

À luta dos médicos, juntaram-se o dirigente do PCP Bernardino Soares e a líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, que exigiram melhores condições para os médicos do SNS.

“Chega a ser desesperante constatar que o primeiro-ministro não quer perceber, não quer ouvir os profissionais, não quer ouvir os utentes, não quer ouvir os especialistas e não quer perceber que os médicos estão exaustos, não conseguem trabalhar mais horas”, disse Mariana Mortágua.

Para a líder bloquista, é preciso um regime de exclusividade que pague um salário base superior aos médicos: “Não é mais horas de trabalho, é mais salário, mais condições de trabalho, mais qualidade de vida”.

Bernardino Soares, do PCP, disse à Lusa que a luta dos médicos “é luta justa” pelos seus direitos, mas também pelos direitos da população e pelo Serviço Nacional de Saúde.

“O Governo continua a não dar resposta às mais básicas reivindicações dos médicos e de outros profissionais e a fazer propostas que implicam um aumento brutal da carga de trabalho e não uma valorização da carreira e da remuneração, como seria exigível”, defendeu, avisando que se o Governo continuar por este caminho, em vez de manter os médicos que estão no SNS e atrair novos, vai “empurrar mais gente para fora do serviço Nacional de Saúde, prejudicando os serviços públicos”.