14 de maio de 2013 15h57

A extração dos seios feita pela atriz norte-americana Angelina Jolie para prevenir o cancro da mama é uma cirurgia que já se faz em Portugal há uma década e de forma gratuita em hospitais públicos, segundo um especialista.

O presidente da Sociedade Portuguesa de Senologia (SPS), José Luís Passos Coelho, explicou à Lusa que a extração preventiva dos dois seios (mastectomia dupla), em casos de pessoas com risco muito elevado de cancro da mama, “já se faz há muito tempo” em Portugal.

O serviço mais antigo é o do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, com cerca de dez anos, a que se seguiu o do Porto, posteriormente o de Coimbra e, mais recentemente, o Hospital de Santa Maria.

O médico explicou, contudo, que é um “grupo muito restrito” de mulheres o que é referenciado para este tipo de consulta e a quem é recomendada a cirurgia, cabendo sempre à mulher a decisão.

“Das pessoas que vêm a desenvolver cancro da mama são muito poucas as que têm um risco tão grande. O facto de se nascer mulher tem o risco de uma em cada sete vir a desenvolver a doença, se viver até aos 70 anos. Estes casos de risco muito elevado são raros, são menos de 5% as mulheres em que há risco de transmissão hereditária”, explicou.

Normalmente são pessoas com vários casos na família e com parentescos diretos e que, por isso, são seguidas numa consulta de risco familiar, onde são estudadas para verificar se têm alteração dos genes BRCA1 e BRCA2.

“Se tiverem esse gene mutado têm um risco superior a 70% de vir a ter cancro da mama e cerca de 50% [de poder ter]cancro dos ovários”, disse, acrescetando que, nesses casos, é proposta uma “mastectomia profilática” que reduz esse risco em mais de 90%.

O médico adiantou ainda que, normalmente, é recomendado também a essas mulheres que tirem os ovários depois de terem filhos.

O presidente da SPS refere, a título de curiosidade, que existe uma alteração destes genes que é típica dos portugueses e que em mulheres de outros países onde se encontra esta alteração verifica-se sempre que tem origens portuguesas.

José Passos Coelho, que ainda não tinha tido conhecimento da cirurgia da atriz norte-americana e que “ainda hoje de manhã referenciou uma mulher para essa consulta”, sublinhou que a opção terapêutica é sempre da mulher, que pode optar por uma alternativa terapêutica, com base em medicamentos, que reduz a probabilidade, embora não tanto como a cirurgia.

Quanto à percentagem de mulheres portuguesas que aceitam submeter-se a essa operação preventiva, o médico desconhece a incidência, mas aponta que há um peso cultural muito grande.

Como exemplo refere a população holandesa, que tem uma adesão muito grande a este tipo de cirurgia, contrariamente à norte-americana, cuja adesão é baixíssima.

Uma coisa é certa, sobre esta matéria não há controvérsia do ponto de vista médico.

Angelina Jolie revelou hoje que fez uma dupla mastectomia para prevenir o risco de 87% de contrair cancro da mama, devido à presença do gene BRCA1, herança genética da sua mãe, que morreu com cancro aos 56 anos.

Lusa