HealthNews (HN)- O seu marido recebeu a notícia de que teria Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica há sete anos. Na noite em que o levou ao hospital imaginava que a situação clínica do seu marido era de tal gravidade?

Maria do Carmo Martins (MCM)- Não. Percebi que seria grave quando vi o meu marido desmaiar e vi os médicos a fazer a reanimação nas urgências do hospital.

HN- Os sinais e sintomas que o seu marido apresentava não semearam dentro de si o receio de que poderia ser DPOC?

MCM- Não. O meu marido estava constipado, tinha tosse, sentia-se cansado, mas nunca associei estes sinais à doença. Eu nem sabia o que era DPOC na altura. Inicialmente até pensei que poderia ter sido um AVC, mas depois de o médico ter falado comigo percebi que a situação clínica do meu marido era muito mais grave.

Aquela noite no hospital foi muito agitada… Ainda me lembro de o ver rodeado de médicos, máquinas e tubos. Foi no dia seguinte que descobri que tinha DPOC e que tinha de continuar ligado às máquinas, uma vez que os seus pulmões não estavam a funcionar.

HN- Tendo sido diagnosticado numa fase bastante avançada da doença a vida do seu marido deu uma reviravolta. Como foi para si viver o diagnóstico e os primeiros meses?

MCM- Deu uma reviravolta na vida de todos cá em casa. Foi muito complicado. Sentia-me impotente porque não sabia como o podia ajudar. Aqueles primeiros cinco dias em que esteve na UCI foram horríveis para mim. Eu não comia… Os médicos até me obrigaram a ir para casa porque eu ficava dia e noite no hospital. Estava a ficar completamente desorientada.

O tempo foi passando e quando o meu marido foi para a enfermaria comecei a ir trabalhar. Isso acabou por me aliviar um pouco. Depois, quando ele veio para casa, foi uma realidade nova porque ficou completamente dependente. Eu e o meu filho tivemos de nos organizar para estar sempre um de nós em casa.

Eu que sempre fui muito despachada tive de me habituar. Tive de começar a andar mais devagar quando andava com ele na rua. Custou-me um bocadinho porque às vezes ia andando e quando dava por mim já não estava a falar com ele, mas sim com o senhor que estava a passar por mim.

HN- A dependência do oxigénio passou a ser uma das principais limitações do antigo Tenente-Coronel. De que forma a utilização desta máquina afetou a autoestima do seu marido?

MCM- Ficou psicologicamente afetado. No início não saia de casa. Sentia muita vergonha quando as pessoas olhavam para ele. Foi preciso explicar-lhe que não precisava de sentir-se daquela maneira. Fomos de férias e penso que o ajudou muito. Ele percebeu que não nos envergonhávamos de estar com ele e isso foi muito bom para ele.

Depois dessa fase o meu marido começou a ir ao ginásio, a fazer exercício e hidroginástica. Aos poucos foi-se adaptando e começou a conduzir com a máquina de oxigénio. Mudámos de carro para que não tivesse nenhuma dificuldade.

No final acabou por se tornar completamente independente, embora ainda precise de algum apoio da nossa parte. Penso que esta é uma doença que tem de ser acompanhada pela família e dar força à pessoa que está doente, caso contrário a pessoa não se aguenta. Desde que o meu marido ficou doente fiquei psicologicamente muito afetada.

HN- Foi, é e será uma peça fundamental na vida do seu marido. Enquanto cuidadora qual tem sido a sua maior dificuldade desde que a DPOC chegou às vossas vidas?

MCM- Estar descansada… Quando vou trabalhar é inevitável não ficar preocupada. O meu marido sabe que me pode ligar a qualquer hora e vou logo ter com ele.

HN- Na saúde e na doença permaneceram juntos. O amor que os une é vosso motor de força?

MCM- Sem dúvida. A nossa vida é agora tão diferente que se não gostássemos tanto um do outro a nossa relação não se aguentava. Mudei a minha maneira de ser porque acho que o bem-estar do meu marido está em primeiro lugar.

O meu esposo está sempre a dizer ‘tu cuida de ti porque se tu morreres eu morro três dias a seguir a ti’, ‘não consigo viver sem ti’.

Entrevista de Vaishaly Funez Camões