29 de maio de 2013 - 11h44
Centenas de populares de Arouca manifestaram-se hoje junto à Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, cantando "Grândola Vila Morena" e exigindo a "subida de divisão" dos serviços de Saúde no município, onde 10.000 utentes não têm médico atribuído.
Os protestos arrastam-se desde a semana passada e na terça-feira à noite a ARS anunciou que mais dois médicos entrarão ao serviço a 03 de junho, mas a autarquia manteve a manifestação, deslocando em seis autocarros até ao Porto "quase 300 utentes".
À chegada à praça do Marquês, os manifestantes começaram por cumprimentar os agentes da PSP destacados para a segurança do evento e depois começaram a em empunhar cartazes como dizeres como "No futebol, Arouca está na primeira. Na Saúde está na terceira".
José Artur Neves, presidente da autarquia, explicou à Lusa que essa analogia se deve ao facto de o Centro de Saúde local estar neste momento com apenas três médicos efetivos e um em prestação de horas para uma comunidade na ordem dos 17.000 a 18.000 utentes.
"Os dois médicos anunciados pela ARS vêm ajudar alguma coisa, mas continuam a ser insuficientes", garante. "Vão estar em prestação de serviços, a título provisório e nunca vão criar laços com as famílias, para as acompanharem devidamente".
Para o autarca, resolver a situação em definitivo passaria por afetar ao serviço "pelo menos quatro médicos", sobretudo tendo em conta as dificuldades no atendimento a utentes de Alvarenga e das freguesias mais serranas do concelho.
"É preciso ver que essas pessoas vivem a 20 ou 30 quilómetros do Centro de Saúde de Arouca e fazem quase uma hora de viagem para irem à vila mendigar alguma coisa", realça. "Depois chegam ao centro de saúde e não têm médico que as atenda".
Falta de médicos noutra freguesia 
No caso específico da freguesia de Alvarenga, daquele concelho, José Artur Neves refere que a extensão de Saúde ali existente "está sem ninguém". A estrutura estará devidamente equipada, mas não tem médicos ao serviço, o que, com base no que a ARS defendeu terça-feira em comunicado, se deverá à "dificuldade em motivar profissionais a fixarem-se em Arouca".
José Artur Neves defende, contudo, que há como contornar esse problema. "Há médicos formados a residir em Alvarenga e eles estão disponíveis para prestar dois dias de serviço por semana", garantiu, antes de entrar na ARS para se reunir com a respetiva administração.
Para José Duarte Conceição, reformado, "isto é tudo uma tristeza". O septuagenário veio até ao Porto "porque é preciso fazer barulho" e dá o seu caso pessoal como exemplo do que lhe motiva críticas: "Fui operado ao coração, preciso de medicamentos todos os dias e não tenho quem me passe as receitas".
A agravante é que esperou "dois meses para ter uma consulta e dois dias antes da data, mandaram a médica embora".
Artémio Noronha admite que tem mais sorte, mas só porque a filha trabalha numa farmácia e ajuda-o a aceder à medicação. O agricultor de 71 anos vive em Alvarenga, tem "a sorte de ter um carrito que ainda dá para fazer a viagem até à vila", mas revela que às vezes espera "duas horas" para além da hora marcada para consulta e depois nem é atendido.
"O que me safa é a minha filha, que me arranja os medicamentos para a tensão alta e para o colesterol", admite. "Mas, sem receita, tenho que os pagar por inteiro e um dia destes já não sobra para medicamentos".
Lusa