Em novembro de 2022, centenas de pessoas saíram à rua para protestar contra as medidas altamente restritivas de combate à covid-19 então em vigor, que incluíam o bloqueio de cidades inteiras durante semanas ou meses consecutivos e a realização quase diariamente de testes em massa.

Na altura, as autoridades chinesas, que acabaram posteriormente por retirar grande parte das medidas restritivas, reagiram através do aumento do número de efetivos policiais nas ruas numa tentativa de evitar uma progressão dos protestos.

Segundo a organização não-governamental (ONG) Observatório de Direitos Humanos, “dezenas de estudantes, jornalistas, artistas, professores e outros, incluindo muitas mulheres, que participaram nos protestos” foram detidos durante esse período.

Foram acusados de “provocar disputas e problemas”, um crime frequentemente utilizado na China para “criminalizar os protestos pacíficos” e “silenciar os críticos”, e que prevê penas de até cinco anos de prisão, referiu a organização.

O Observatório denunciou hoje também a ocorrência de “desaparecimentos forçados”, relatando casos publicamente desconhecidos “dada a prática das autoridades chinesas de ameaçar as famílias dos detidos para que fiquem calados”.

“As autoridades devem libertar incondicionalmente todos os detidos por terem criticado pacificamente a resposta do Governo à pandemia, bem como aqueles que participaram nesses protestos”, defendeu Elaine Pearson, diretora do Observatório de Direitos Humanos para a Ásia.

Pearson acrescentou que vários manifestantes foram libertados alguns dias depois, enquanto outros foram libertados nos meses que se seguiram.

Mas, segundo relevou a representante, outros manifestantes ainda permanecem na prisão.

Um desses casos é Kamile Wayit, um estudante de etnia uigur de 19 anos, que continua detido em Xinjiang por “promoção do extremismo”, depois de ter partilhado um vídeo dos protestos na Internet.

Outro estudante chinês de 23 anos que vive em Hong Kong, Zeng Yuxuan, foi condenado a seis meses de prisão por “sedição”.

Zeng foi “deportado para a China continental” e nunca mais se ouviu falar dele, de acordo com a ONG.

Embora os protestos se tenham dissipado quando o Governo alterou a sua política, a ONG recordou que “alguns jovens pagaram um preço elevado por se atreverem a manifestar-se” e “foram fundamentais” para a mudança na forma como a China lidou com a pandemia.

Pequim devia “permitir espaços públicos seguros para as pessoas se expressarem”, defendeu ainda a ONG.

Há um ano, os manifestantes ergueram folhas de papel em branco em oposição à censura praticada pelo regime. Os protestos pacíficos e as vigílias eclodiram após a morte de 10 pessoas que estavam em regime de confinamento na região noroeste de Xinjiang. O bloqueio do complexo residencial onde estavam as pessoas terá impedido o acesso dos bombeiros após um incêndio deflagrar.

Em Pequim, os manifestantes entoaram palavras de ordem como “devolvam-me a minha liberdade”. Em Xangai, manifestantes chegaram mesmo a exigir a demissão do líder chinês, Xi Jinping.

Alguns internautas também publicaram então mensagens na rede social WeChat que consistiam apenas em palavras como “bom”, “sim” ou “concordo”, em protesto contra a remoção sistemática de conteúdo crítico do desempenho das autoridades.

Dias após os protestos, as autoridades decidiram retirar grande parte das restrições, o que suscitou uma enorme onda de contágios que resultou numa elevada pressão hospitalar e num aumento das vítimas mortais.

A China deixou de atualizar os dados pouco após a reabertura.