Num documento que deverá ser entregue à administração do CHS, em que manifestam solidariedade aos médicos demissionários, os signatários dizem concordar com a tomada de posição e com os motivos apresentados pelo diretor clínico e pelos diretores e chefes de serviço do CHS.
“Esta atitude visa a consciencialização das diversas hierarquias do poder político na área da saúde para tomarem as decisões adequadas que sejam capazes de resolver os candentes problemas do SNS (Serviço Nacional de Saúde) e, em particular, deste Hospital, com caráter de urgência”, lê-se no documento a que a agência Lusa teve acesso e que nos próximos dias poderá merecer a adesão de mais algumas dezenas de médicos do CHS.
O diretor clínico do Centro Hospitalar de Setúbal, Nuno Fachada, apresentou a demissão do cargo no passado dia 30 de setembro, justificando a decisão com a situação de rutura nas urgências, falta de recursos humanos e degradação progressiva de vários serviços.
Na informação enviada aos médicos, aquando do pedido de demissão, Nuno Fachada justificava a decisão com a “não resposta sobre a requalificação e financiamento do CHS” - que é também uma exigência da Câmara Municipal e da população de Setúbal – e com a “falta de condições de atratividade dos médicos”.
Por outro lado, o diretor clínico do CHS dava conta de uma “situação de rutura e agravamento nas urgências médicas, obstétrica, EEMI [Equipa de Emergência Médica Intra-Hospitalar]”, de “dificuldades” nas escalas de pediatria, cirurgia, via verde AVC e urgências internas, e de subaproveitamento dos blocos operatórios devido à falta de recurso humanos.
Poucos dias depois, em 06 de outubro, 87 diretores e chefes de serviço do CHS solidarizaram-se com o “grito de revolta” do diretor clínico e também anunciaram a intenção de se demitirem.
As tomadas de posição do diretor clínico, diretores e chefes de serviço, contam agora com a solidariedade da grande maioria dos restantes médicos do CHS, 191 dos quais já subscreveram um documento em que se solidarizam com as referidas tomadas de posição e com os motivos invocados para as mesmas.
O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, tem vindo a alertar, pelo menos desde fevereiro de 2020, para a insuficiência do espaço físico e de meios humanos no Hospital de São Bernardo, principal unidade de saúde do CHS.
Na altura, após uma reunião com a direção clínica do CHS, Miguel Guimarães afirmou que, a par da falta de espaço e da falta de meios humanos, o Hospital de São Bernardo também estava a ser penalizado pela classificação que lhe está atribuída (grupo C), o que significa que recebe compensações financeiras muito inferiores às que são pagas a outras unidades hospitalares (do grupo D) pelos mesmos atos médicos.
“Em Setúbal existe uma quantidade de médicos altamente diferenciados, que fazem serviços que vão muito para além da tipologia do hospital – como está classificado na legislação -, oferecem cuidados que não têm sido reconhecidos pelo Estado, nomeadamente naquilo que é a valorização dos atos praticados”, disse.
“No CHS fazem-se técnicas altamente diferenciadas em várias áreas, que têm uma valorização mais baixa do que as mesmas técnicas em outros hospitais, só porque o hospital tem uma classificação diferente. E isto é uma coisa que urge corrigir, porque estas pessoas estão aqui a dar o melhor de si, a fazer uma medicina de elevadíssima qualidade, não estão a ter esse reconhecimento, que é importante que aconteça rapidamente”, defendeu o bastonário dos médicos.
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