Resumo
A enfermagem pré-hospitalar constitui uma área essencial da resposta em saúde urgente e emergente, exigindo competências avançadas e atuação em contextos de elevada complexidade. Em Portugal, esta área carece de reconhecimento formal e enfrenta desafios estruturais relevantes, como a escassez de profissionais, a emigração, e o impacto negativo nas condições psicossociais dos enfermeiros. Este artigo visa analisar o panorama atual da enfermagem pré-hospitalar, fundamentado em dados estatísticos recentes e evidência científica, e propor linhas estratégicas para a sua valorização.

Palavras-chave: Enfermagem de emergência; Cuidados pré-hospitalares; Saúde mental dos profissionais; Sistema de emergência médica; Recursos humanos em saúde

Introdução
A enfermagem no contexto pré-hospitalar representa uma área de prática clínica especializada, centrada na resposta imediata a situações críticas em ambientes extrahospitalares. Os enfermeiros que operam neste domínio são determinantes na avaliação, estabilização e encaminhamento de vítimas em situação aguda, sendo parte fundamental da cadeia de sobrevivência e da continuidade dos cuidados. No entanto, em Portugal, esta prática continua subvalorizada institucionalmente, com lacunas significativas no reconhecimento legal e na valorização profissional.

Escassez de Recursos Humanos
Portugal enfrenta um défice estimado de cerca de 14.000 enfermeiros no Serviço Nacional de Saúde (SNS), afetando diretamente a capacidade de resposta no setor da emergência pré-hospitalar. Esta escassez resulta, entre outros fatores, da insuficiência na reposição de profissionais aposentados e das condições laborais pouco atrativas em contextos de elevada exigência física e emocional.

Emigração e Retenção de Enfermeiros
A contínua emigração de enfermeiros portugueses constitui uma tendência preocupante. Em 2023, aproximadamente 1.600 enfermeiros deixaram o país em busca de melhores condições salariais e de reconhecimento profissional, com a Suíça e o Reino Unido como principais destinos. Esta realidade compromete a sustentabilidade dos serviços de emergência e dificulta a implementação de modelos clínicos baseados em competências avançadas.

Saúde Mental e Condições Psicossociais
A elevada carga emocional, o trabalho em turnos prolongados e a exposição constante ao sofrimento humano têm um impacto evidente na saúde mental dos profissionais. O estudo NursesMH#Survey2024 revelou que 74,3% dos enfermeiros relataram perceção negativa da sua saúde mental, com 87,4% a manifestar sintomas de ansiedade e insónia, e 28,8% a apresentar sinais de depressão grave. Este panorama reforça a urgência de políticas institucionais de promoção do bem-estar organizacional.

Reconhecimento da Especialidade e Perspetivas de Carreira
Apesar da complexidade da prática pré-hospitalar, a enfermagem de emergência não é reconhecida como uma especialidade autónoma em Portugal, ao contrário do que acontece em vários países europeus. A ausência de um enquadramento legal e de incentivos à diferenciação clínica limita o acesso à formação especializada e à progressão na carreira, o que desincentiva a permanência de profissionais neste setor.

Conclusão
A enfermagem pré-hospitalar portuguesa encontra-se num ponto crítico que exige respostas estruturadas e multidimensionais. O reconhecimento formal da prática avançada em emergência, a valorização da saúde mental dos profissionais e a criação de condições para atrair e reter enfermeiros qualificados devem constituir prioridades estratégicas.