A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) realizou em dois anos mais de 5.600 consultas gratuitas de acompanhamento psico-emocional para doentes oncológicos e seus familiares, disse hoje à Lusa fonte da LPCC.
As oito unidades fixas de psico-oncologia foram criadas em 2009, mas só nos últimos dois anos foram realizadas 5.638 consultas, apoiados 794 doentes e acompanhados 97 casos de luto. O perfil do doente é maioritariamente feminino, com idades compreendidas entre os 30 e 45 anos e pertencentes à classe média.
Os dados foram revelados à Lusa a propósito do I Congresso Ibérico de Psico-Oncologia que a LPCC – Núcleo Regional do Norte realiza no sábado, no Porto, para falar dos benefícios clínicos do apoio psicológico a um doente oncológico. Este encontro integra as comemorações da Semana Europa Contra o Cancro (25 a 31 maio).
O psicólogo e sexólogo, Renato Martins, diretor clínico das unidades de psico-oncologia da LPCC, explicou à Lusa que “a existência de um apoio psicológico especializado ao longo das diferentes fases da doença oncológica, que contemple o tratamento dos principais quadros psicopatológicos e a erradicação de sintomatologias disruptivas, é fundamental para que estes doentes consigam alcançar um ‘verdadeiro estado de saúde’”.
“O acompanhamento psicológico integrado do doente oncológico e dos seus familiares constitui um fator fundamental para a promoção de uma melhor qualidade de vida e para a potencialização dos efeitos dos tratamentos médicos realizados”, frisou o psicólogo.
De acordo com Renato Martins, “independentemente da localização e das características histológicas do tumor, a presença de quadros psicopatológicos em doentes oncológicos é bastante mais frequente do que na população saudável”.
“O registo de perturbações de autoestima e da imagem corporal, a presença de disfuncionalidade sexual latente, a subsistência de perturbações hipocondríacas, a exacerbação das problemáticas do foro relacional e a presença concomitante de quadros depressivos e ansiosos, mais ao menos graves, são bastante comuns nestes doentes”, acrescentou.
O psicólogo referiu ainda que está provado cientificamente, que tal “regalia”, para além de potencializar a qualidade de vida dos doentes oncológicos, melhora as taxas de adesão terapêutica, reduz o impacto das possíveis somatizações, combate os efeitos nefastos dos excessos medicamentosos e reduz o tempo de recuperação clínica dos pacientes.
“Em última análise, pode contribuir para a promoção de um aumento efetivo do seu tempo de sobrevida por estimulação indireta do bom funcionamento imunitário”, frisou.
As unidades de apoio psico-oncológico foram criadas pela LPCC em parceria com a American Amgen Foundation, com o objetivo de proporcionar “uma resposta assertiva às carências detetadas em Portugal ao nível do tratamento integrado e multidisciplinar do cancro”.
Os objetivos destas unidades passam pela promoção do bem-estar psico-emocional, mental e da qualidade de vida em doentes com cancro em todas as fases da doença, incentivando a aquisição de competências para lidar com as exigências associadas ao diagnóstico, tratamento e sobrevivência e dar apoio às famílias ao longo do processo de adoecimento, ajudando-os a expressar os seus medos, expetativas e emoções e preparando-os para lidar com as mudanças comportamentais do paciente.
23 de maio de 2012
@Lusa
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