Ao confinamento, adotado por duas semanas, soma-se um toque de recolher das 18h às 6h, para fazer frente aos índices recordes de contaminação dos últimos dias, elevando o saldo desde o início da epidemia no Líbano para 10.952 casos, incluindo 113 mortes.

Preocupada com as consequências da epidemia, Moukarzel é a favor do confinamento, em particular após a explosão no porto da capital que deixou pelo menos 181 mortos e milhares de feridos.

Um primeiro confinamento de um mês foi imposto em meados de março, antes de ser gradualmente suspenso. Mas o aeroporto só voltou a reabrir a 1 de julho e com atividade reduzida. Um novo confinamento foi imposto no final de julho, mas durou apenas cinco dias por causa da explosão. O aeroporto de Beirute opera normalmente.

"Do ponto de vista económico, fechar o país não é bom porque as pessoas querem vender, mas é melhor perder um pouco do que adoecer", afirma Moukarzel.

"Não há vagas nos hospitais. Se as pessoas começarem a adoecer, onde vão colocá-las?", questiona a mãe de 55 anos.

As autoridades temem que o setor da saúde tenha dificuldades para responder a um novo pico de infeções pelo vírus, especialmente porque alguns hospitais perto do porto foram seriamente danificados.

O reconfinamento não afetará os esforços de limpeza e resgate nos bairros mais afetados pela explosão, segundo as autoridades.

Lojas de alimentos, supermercados e outros comércios poderão funcionar, mas com medidas preventivas.

A pandemia de COVID-19 apenas acentuou a crise económica sem precedentes no Líbano, com uma inflação alta, restrições à retirada de dólares e milhares de pessoas que perderam os seus empregos ou grande parte do seu rendimento.

Mesmo antes da explosão de uma enorme quantidade de nitrato de amónio armazenada no porto - o que provocou a ira dos libaneses, que acusam as autoridades de serem responsáveis pela sua negligência - o índice da população considerada pobre duplicou com a crise, de acordo com estimativas da ONU.

"Nada para comer"

Sentado na sua oficina de carpintaria, em um distrito de Beirute longe do porto, Qassem Jaber, de 75 anos, não vê como outro confinamento seria útil. "Não há trabalho. As pessoas não têm dinheiro e não têm nada para comer", diz.

O comerciante está determinado e vai permanecer aberto para ajudar as pessoas a reconstruírem suas casas. Para este muçulmano xiita, o Hezbollah agiu bem, convocando os seus apoiadores a evitarem grandes reuniões este ano por ocasião do Ashura, que comemora o martírio do ímã Hussein, neto do profeta Maomé, um dos eventos fundadores do Islão xiita.

Normalmente, milhares de xiitas reúnem.se nas ruas para as comemorações, que acontecem na sexta-feira. Mas o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, ordenou que as comemorações públicas fossem suspensas devido ao ressurgimento da epidemia.

"A situação saiu do controleo há muitos casos e os hospitais não podem mais lidar com isso", afirmou Nasrallah na segunda-feira, instando os seus partidários a simplesmente colocarem bandeiras pretas na frente das suas casas. "Eles cancelaram o Ashura para que ninguém fosse infetado", aponta Jaber.

"Todos os dias, temos 100, 200, 300 novos casos. Se eles mantivessem o Ashura, todos estariam colados uns aos outros. Não seria bom", acrescentou.