As autoridades e especialistas asseguram que este despejo no Oceano Pacífico não representa riscos para a saúde humana ou para o meio ambiente, mas ONGs e pescadores locais opõem-se fortemente ao projeto.
China e Coreia do Sul também estão insatisfeitas.
Que água é esta?
Cerca de 1,25 milhões de toneladas de água contaminada estão armazenadas em mais de 1.000 cisternas perto da central nuclear de Fukushima Daiichi, no nordeste do Japão, devastada por um terramoto e tsunami a 11 de março de 2011.
A água vem da chuva, de camadas subterrâneas ou foi usada para arrefecer os núcleos dos reatores nucleares que entraram em fusão após o tsunami.
Antes de ser descartada, a água é tratada com um Sistema Avançado de Processamento de Líquidos (ALPS), para remover a maioria das substâncias radioativas (radionuclídeos), mas não o trítio, que não pode ser removido com as técnicas disponíveis atualmente.
O trítio só é perigoso para a saúde em doses muito altas, de acordo com especialistas. Este componente desintegra-se em cerca de 50% após 12 anos (uma a duas semanas no corpo humano), emitindo radiação beta de baixa energia.
Qual o motivo desta escolha?
Como a capacidade de armazenamento do local vai saturar no segundo semestre de 2022, uma decisão teve que ser tomada com urgência sobre a água "tritiada".
Em janeiro de 2020, um grupo de especialistas contratado pelo governo defendeu a sua dissolução progressiva no oceano, descartando assim a solução alternativa, que consistia na evaporação no ar.
O despejo de água tritiada no mar "já é praticado no Japão e no exterior" a partir de central em operação e, portanto, é "mais viável", estimaram os especialistas.
A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) também considera esta solução "consistente" com as práticas "estabelecidas" em todo o mundo.
O porta-voz do governo japonês, Katsunobu Kato, assegurou esta terça-feira que a diluição no mar, a ser monitorada pela AIEA, reduziria os níveis de trítio abaixo das normas nacionais e dos padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS) para água potável.
Qual a polémica?
Organizações ambientalistas como a Greenpeace afirmam que a água de Fukushima contém outros elementos radioativos, como carbono-14, com o risco, segundo eles, de entrar na cadeia alimentar e danificar o ADN se as doses se acumularem a longo prazo.
Essas ONGs defendem o armazenamento sustentável até que a tecnologia de filtragem de água melhore.
Os pescadores japoneses temem que isso prejudique a sua imagem. "A mensagem do governo de que a água não é perigosa não chega ao público, esse é o grande problema", afirmou um diretor da associação sindical dos pescadores de Fukushima, consultado pela AFP há alguns meses.
"Os nossos parceiros comerciais dizem-nos que deixarão de vender os nossos produtos" se o despejo ocorrer e alguns consumidores já reclamaram, acrescentou. "Os nossos esforços para restaurar a indústria pesqueira na última década seriam frustrados", disse.
Desde o desastre de 2011, todos os produtos agrícolas e pescado do Japão são submetidos a rígidos controlos sanitários.
Também são aplicados padrões de radioatividade duas vezes mais severos do que os nacionais aos alimentos do departamento de Fukushima, para tranquilizar os consumidores.
O que dizem os cientistas?
Para Michiaki Kai, especialista em riscos de radiação da universidade de ciências da saúde de Oita (sudoeste do Japão), a chave é controlar a diluição e o volume da água tritiada lançada no mar.
"Há um consenso entre os cientistas de que o impacto na saúde (de um derramamento de água triturada no mar) é minúsculo", mas "não podemos dizer que o risco é zero, por isso é polémico", disse à AFP.
Geraldine Thomas, especialista em radiação do Imperial College de Londres, acredita que o trítio "não apresenta nenhum risco à saúde, especialmente porque é preciso ter em conta que será diluído no Oceano Pacífico".
O carbono-14 na água de Fukushima também não é prejudicial, aponta. Os poluentes químicos nos oceanos, como o mercúrio, deveriam preocupar muito mais os consumidores do que "tudo o que vem da fábrica de Fukushima", ressalta.
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