Um estudo português sobre os genes das enzimas que fabricam polissacáridos raros (açucares complexos) envolvidos na génese da parede especial das micobactérias como as que causam tuberculose foi contemplado com financiamento japonês.

A investigação é de uma equipa de micobacteriologia molecular liderada por Nuno Empadinhas, no Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC) e foi uma das 16 selecionadas com uma bolsa de 2,2 milhões de ienes (cerca de 20 mil euros), por um período de um ano, pela Mizutani Foundation for Glycoscience, fundação japonesa que há duas décadas promove a investigação na área das glicociências (açúcares biológicos e suas funções), anunciou hoje a Universidade de Coimbra.

Nuno Empadinhas explicou à agência Lusa que o objetivo é “identificar os genes responsáveis pela síntese dos polissacáridos”, de forma a “encontrar um “ponto fraco” das microbactérias, e, assim, impedi-las de poderem “desenvolver patogenicidade (doença)”.

Um dos grandes obstáculos desta investigação é “descodificar a função dos genes (que dão origem às enzimas) destas bactérias”, disse o especialista, sublinhando que estão ainda por descobrir as funções de mais de metade dos 4.000 genes da mycobacterium tuberculosi (micobactéria da tuberculose).

Se o estudo correr como o previsto, “fica aberto o caminho a áreas como a biologia estrutural, engenharia química e farmacêutica em direção ao desenvolvimento de fármacos (antibióticos) que bloqueiem a função dos polissacáridos e a formação da parede, com consequências letais para as micobactérias”.

Poderá também ter impacto em “patologias causadas por outras micobactérias dispersas no ambiente, as não tuberculosas” (há mais de 150 espécies descritas).

“A crescente preocupação com estas micobactérias resulta do aumento no número de infeções em ambiente hospitalar, em pacientes imunodeprimidos, ou com fatores de risco como fibrose quística, diabetes e idade avançada”, explicou Nuno Empadinhas.

Embora “modesto”, o financiamento atribuído pela fundação japonesa constitui “um complemento importante” para o estudo atingir os objetivos e vem “dar crédito” ao trabalho dos cientistas portugueses, tendo em conta que concorreram “investigadores do mundo inteiro”, considerou.

A equipa de investigação, que conta também com financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), tem a colaboração de elementos do Instituto de Biologia Celular e Molecular (Porto), do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (Oeiras) e da Universidade de Guelph, no Canadá.

25 de junho de 2012

@Lusa