O Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil (CADIN) vai desenvolver um projeto, a nível nacional, de formação de educadores para alertar para os perigos da utilização da Internet e ensinar a usar de forma adequada as novas tecnologias.
O diretor científico do CADIN, Carlos Filipe, explicou à agência Lusa que este projeto tem estado a ser desenvolvido há cerca de um ano numa dezena de escolas da região de Lisboa e Vale do Tejo e que, agora, o objetivo é torná-lo nacional.
Na quarta e quinta-feira decorre na Casa de Saúde de Carnaxide, em Oeiras, uma formação sobre as dependências da Internet que pretende ser um primeiro passo para alargar estes conhecimentos a pais e professores de todo o país.
Carlos Filipe assume ter já vários casos de doentes com dependência das redes sociais, que chegam a passar 12 horas diárias on-line.
“Mesmo nas redes sociais que podem parecer mais inofensivas do ponto de vista da proteção da privacidade e dos riscos de pedofilia há aspetos complicados relacionados com o que é a essência de dependência”, sublinhou.
Dependentes da Internet, crianças, adolescentes e até adultos fazem adiar aspetos da sua vida académica, cultural e até social.
“Estas redes podem ser um entrave à socialização. E há também casos de alterações de ritmos de sono e vigília decorrentes desta adição. No caso do jogo on-line, por exemplo, esses ritmos podem ser completamente pervertidos quando se joga com parceiros de outros continentes”, exemplificou o responsável do CADIN.
Carlos Filipe indica até que já teve casos de jovens que dormem com o telemóvel ou com o ‘tablet’, com medo de que “qualquer coisa aconteça sem que estejam ligados”.
À medida que a facilidade de acesso à Internet vai aumentando, cresce também o risco de estas dependências se tornarem mais frequentes, lembrou à Lusa o psiquiatra Luís Patrício, um dos organizadores da formação que começa na quarta-feira.
“Não se trata de diabolizar estes meios de comunicação, que são extraordinários. Mas mal usados podem causar dependência. E a prevenção deve fazer-se junto das crianças”, afirmou o médico.
Por isso, em casa, o computador deve estar à vista de todos e a criança que joga ou navega na Internet deve estar acompanhada de um adulto, aconselha Luís Patrício.
Para este psiquiatra, a questão da dependência e adição deve ser sempre vista e tratada em conjunto com a patologia mental. Mesmo sendo uma dependência sem substância (como o caso do jogo, da Internet ou das compras), é uma situação em que há um desejo de conseguir uma recompensa imediata e uma incapacidade de controlar esse comportamento.
“As situações de dependência acompanham-se quase sempre de um significativo sofrimento psíquico ou psiquiátrico. De um mau-estar, de stress, angústia ou exaustão que faz as pessoas procurarem qualquer coisa artificial”, argumenta.
Assim, Luís Patrício sublinha a importância de tratar a patologia associada aos consumos aditivos, de forma a evitar recaídas ou transferência para outras dependências.
08 de janeiro de 2012
@Lusa
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