As pessoas estão avisadas de que um cancro é muito mau. “Mas há muita mais insuficiência cardíaca do que cancro acima dos 65 anos e esta doença pode ser mais grave”, começa por explicar a médica cardiologista Brenda Moura. “E se for perguntar à população, as pessoas não sabem o que é a insuficiência cardíaca”, diz.

A insuficiência cardíaca é uma doença caracterizada pelo facto do coração não conseguir bombear sangue suficiente para todos os órgãos do corpo, podendo dar origem a complicações adicionais quando não é tratada.

Tomar a medicação e adotar estilo de vida saudável

“Parece que estamos sempre a dizer o mesmo: comam bem, não fumam, façam exercício… Mas isto, de facto, serve para todas as doenças. E as doenças cardíacas e cardiovasculares numa fase final podem dar origem a insuficiência cardíaca. Se tivermos hábitos de vida saudáveis, não vamos ter diabetes, hipertensão… Logo o risco de ter um enfarte do miocárdio é menor. E porque não tivemos diabetes, nem hipertensão, nem um enfarte não vamos ter insuficiência cardíaca”, sintetiza a especialista.

Um doente com insuficiência cardíaca diagnosticada e sujeito a medicação não pode ter comportamentos de risco, sejam eles abandonar a medicação ou abusar do sal. "Não basta tomar o comprimido e depois fazer refeições com um teor salino altíssimo. É preciso adotar um estilo de vida saudável e cumprir, à regra, a toma de medicação", alerta Brenda Moura.

Cuidadores sem apoio

Para além do apoio dado por privados, instituições de solidariedade social e centros de saúde – praticamente circunscritos à vigilância de situações mais graves ou motivado por questões de higiene – praticamente não existe outro tipo de auxílio aos doentes com insuficiência cardíaca.

Os cuidadores – na maioria familiares próximos – prestam a ajuda possível, embora em Portugal não haja apoio institucional para este tipo de pessoas. “Não têm nenhum suporte em sentido nenhum, nem são ensinadas”, adianta Brenda Moura.

Os doentes cardíacos pertencem, maioritariamente, a escalões etários avançados, muitas vezes com outras doenças associadas e sujeitos a medicação variada. Sem os cuidadores, seria praticamente impossível assegurar a assistência e o tratamento deste tipo de doentes.

“Há de facto um défice no apoio que pode ser dado a essas pessoas que cuidam e que são muito importantes porque afinal gerem todo o processo à volta destes doentes”, lembra a cardiologista.

“No estrangeiro existem muitos grupos de apoio, para doentes e para cuidadores, o que é muito importante do ponto de vista emocional, porque as pessoas trocam experiências sobre os problemas, mas nós não temos a cultura destes grupos”, comenta.

Nova plataforma para cuidadores, doentes e profissionais

Neste sentido, a Sociedade Portuguesa de Cardiologia, nas vésperas do 36.º congresso da especialidade, que decorreu em Albufeira entre 18 e 21 de abril, lançou uma nova plataforma em português que promete facilitar a vida de doentes, cuidadores e profissionais, o HeartFailureMatters.

Lançado originalmente em várias línguas estrangeiras pela Sociedade Europeia de Cardiologia, trata-se de “um site fácil, acessível e que esclarece questões e dúvidas diárias”, explica Brenda Moura, responsável pela plataforma na versão portuguesa.

“Lá podemos encontrar rúbricas de alimentação, questões sobre viagens, dúvidas sobre a medicação, questões práticas do dia-a-dia, que tranquilizam as pessoas”, garante. “É um site virado para o leigo e que pode ser consultado por todos”, acrescenta.

Em português e à distância de um clique, o portal heartfailurematters.org informa, esclarece, apoia e ensina que é possível prevenir a insuficiência cardíaca.

O SAPO esteve no 36.º Congresso Português de Cardiologia, em Albufeira, a convite da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.