“Cada vez mais vamos necessitar de informação científica de alta qualidade. (…) Tudo vai necessitar de informação a quatro níveis: os políticos responsáveis têm de ter mais informação de alta qualidade para decidir sobre políticas públicas, os médicos também para decidirem sobre as terapêuticas, os administradores para definir sobre as estratégias a usar e os próprios doentes”, disse à Lusa António Vaz Carneiro, um dos investigadores associados do ISBE.
Atualmente à frente do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência (CEME), o professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa explica que este centro “chegou ao limite do seu crescimento” e que o ISBE surge como uma necessidade de "tentar áreas mais internacionalizáveis, mais abrangentes e mais significativas para o sistema de saúde”.
Especialista em medicina interna, nefrologia e farmacologia clínica, Vaz Carneiro diz que o sistema de saúde chegou a uma altura em que “é preciso avaliar os cuidados de saúde, o que se justifica por ser relevante e mensurável, para depois se poder organizar o sistema a vários níveis, como o acesso, a tecnologia e o custo”.
Recorrendo a este instituto, explicou, tanto um político pode ter uma análise cientificamente fundamentada da aplicação de determinada medida, como um administrador hospitalar pode solicitar uma análise ao fluxo de doentes, ou um médico ter acesso à mais relevante informação científica sobre um medicamento de segunda linha.
“Não há cá opiniões. Apenas mostramos a ciência”, afirma o responsável, sublinhando: “Os sistemas modernos vão necessitar massivamente de informação. Daqui a cinco ou 10 anos ninguém vai decidir bem sem a informação necessária e institutos como este vão ocupar um espaço muito determinante”.
O ISBE pretende ser um local de “independência intelectual”, um espaço de encontro, integração e partilha da academia, com expressão internacional e autonomia financeira para poder criar, disseminar e operacionalizar conhecimento científico no setor da Saúde.
O instituto terá três tipos de associados: os institucionais, que são a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, os associados investigadores, entre os quais se encontram o ex-ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes e a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Ana Paula Martins, e os parceiros privados.
Os parceiros privados do ISBE são a Associação Nacional de Farmácias (ANF), a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma) e a Plataforma Saúde em Diálogo (que representa os doentes) e a Associação Portuguesa da Hospitalização Privada.
“Com fundos privados teremos bolseiros de investigação, desde o jovem médico que se quer doutorar, vem trabalhar connosco e pagamos-lhe as propinas ao que quer fazer investigação em ‘full time’ e terá uma bolsa idêntica à da FCT, mensal”, explicou Vaz Carneiro.
As áreas prioritárias de investigação serão a epidemiologia e ‘big data’ (trabalhar as grandes bases de dados), a inteligência artificial na Saúde, a saúde pública e as políticas de saúde, investigação de resultados (por exemplo, analisar se fechar um serviço o que acontece a um hospital), avaliação de tecnologias da saúde e a translação do conhecimento.
Em declarações à agência Lusa, o ex-ministro Adalberto Campos Fernandes, que será um dos associados investigadores do ISBE, sublinhou a importância de “aproximar a ciência à realidade quotidiana” para dar confiança às pessoas.
“É fundamental gerar confiança nos cidadãos. Para tal é muito importante aproximar a ciência à realidade quotidiana dos cidadãos. O desenvolvimento humano está indissociavelmente ligado aos resultados da investigação científica e ao progresso associado à inovação. Este papel não pode estar apenas atribuído à comunidade científica”, afirmou.
Adalberto Campos Fernandes sublinhou ainda a necessidade de aproximar a ciência dos cidadãos para evitar “perder a batalha da verdade para o lado do obscurantismo oportunista e perigoso”.
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