Face ao aumento da taxa de desemprego para os 14 por cento (mais 1,6 pontos percentuais face à taxa anterior) o psicólogo e psicoterapeuta Nuno Cristiano de Sousa alerta os portugueses para o risco deste tipo de instabilidade económica e social para a saúde mental.

“No espaço de poucos dias, soube-se, pelo menos, que irão existir penalizações no IRS para salários superiores a 675€ e que Portugal regista mais de 770 mil desempregados. A fragilidade da dinâmica de sobrevivência dos portugueses é repetidamente evidenciada, criando um ambiente de instabilidade emocional cada vez mais forte”, defende o especialista.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), entre setembro e dezembro foram contabilizadas mais 81,4 mil pessoas desempregadas, relativamente ao trimestre anterior e superando as estimativas dos economistas. “Enquanto pessoas não nos limitamos a querer sobreviver, ambicionamos viver com aqueles de quem gostamos e uma pessoa que não tem tempo para o fazer – quer porque acumula horas extra no emprego, com medo de o perder, quer porque passa o dia a procurá-lo – dificilmente estará satisfeita ou será produtiva”, explica o psicólogo que acredita ser um erro descurar-se o impacto das reações emocionais nas reformas laborais.

A abordagem clinicamente infantil à crise, como a denomina Nuno Cristiano de Sousa por privilegiar o castigo (austeridade e sacrifícios) face à autonomização (oportunidades de empreendedorismo), tem constituído um obstáculo à evolução social, acentuando o sentimento de dependência face ao exterior, para aqueles que não conseguem subsistir, e impedindo os que poderiam criar melhores condições de vida aos restantes indivíduos de o fazer, com uma carga fiscal elevada e estímulos à evasão fiscal.

“Todos temos uma tolerância aos sacrifícios, desde que os mesmos sejam encarados como um investimento, e não como um ciclo vicioso de punições, passando a mensagem de que não há alternativa. Quando se começa a pôr em causa não só o bem-estar fisiológico, como o próprio conforto pessoal e familiar, abrimos caminho para reações cada vez mais instintivas”, alerta o profissional.

17 de fevereiro de 2012

@Lusa