Diversas personalidades da área da Saúde assinam hoje um compromisso que prevê que, até 2021, pelo menos um terço dos principais prestadores de saúde sejam financiados pelos resultados dos atos médicos praticados.

“A questão fundamental é perceber que os resultados clínicos de saúde, dos atos médicos, não são todos iguais. Nós todos, quando entramos no hospital, entramos de boa fé e a acreditar que é indiferente ser recebido por um ou outro médico num ou noutro hospital”, disse à Lusa João Marques Gomes, da Nova School of Business and Economics (SBE), um dos impulsionadores da iniciativa.

O responsável da faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa explicou que “a variação dos resultados pode ser muito significativa” e que é importante usar os dados que já fazem parte do processo clínico do doente para poder medir os resultados dos atos médicos prestados nas unidades de saúde.

“Muitas vezes temos os dados, mas não os usamos”, afirma João Marques Gomes, sublinhando que “se há variação de resultados entre unidades de saúde significa que há atos médicos que podiam ser melhores”.

Dando o exemplo da diferença das taxas de reoperação em alguns hospitais, o especialista afirma: “Do ponto de vista do sistema, significa que estou a financiar práticas clínicas que não são tão boas como deveriam ser”.

No encontro onde o compromisso será assinado estarão os bastonários das principais ordens profissionais na área da Saúde - médicos, enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos e nutricionistas -, administradores hospitalares públicos e privados, associações de doentes, sociedades médicas e diversas personalidades da área como o ex-ministro Adalberto Campos Fernandes, a ex-ministra Maria de Belém e o ex-diretor-geral da Saúde Constantino Sakellarides.

No texto do compromisso, a que a Lusa teve acesso, os signatários comprometem-se a “medir resultados que se foquem nos doentes, sistematizar práticas e integrar cuidados”, avançando com experiências piloto, e medir os custos totais para obter os resultados desejados, passando, “tendencialmente, a financiar por valor criado, não por atos isolados ou por silos terapêuticos”.

Comprometem-se ainda a adotar medidas para garantir que, em 2021, “pelo menos um terço dos atores da saúde em Portugal tenha aderido à prestação e ao financiamento de cuidados com base em valor”.

“Este esforço colaborativo será acompanhado por uma ‘task force’ onde todos se sentirão devidamente representados”, acrescenta o texto.

Para João Marques Gomes, “nem todos os atos médicos prestados acrescentam o mesmo valor para o doente” e, por isso, a prestação de cuidados de saúde deve ser analisada e avaliada com base no valor criado.

“O que traz mais valor para o doente trará, como consequência, mais valor para o sistema (…). Quando tenho doentes o que quero é tratá-los tão bem quanto possível, para eles não terem de voltar”, acrescentou.

Quanto ao financiamento dos atos médicos, o responsável defende que este modelo de avaliação “pode e deve mexer com o financiamento do ato médico”.