“Há muito que fazer para a integração das diferentes religiões em todos os hospitais”, disse o padre Fernando Sampaio, na conferência “(Cuidados de) Saúde e Espiritualidade, que decorreu hoje em Lisboa, promovida pelo Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), pelo Grupo de Trabalho Religiões-Saúde (GTIR) e pela Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos.
Em declarações à agência Lusa, à margem da conferência, o padre Fernando Sampaio, capelão do Hospital de Santa Maria, adiantou que, apesar de alguns hospitais já integrarem todas as crenças, ainda “é residual”.
O decreto-lei que regulamenta a Assistência Espiritual e Religiosa no Serviço Nacional de Saúde (SNS) “abriu um novo paradigma de atenção aos doentes nas suas necessidades espirituais, na sua própria fé, porque tem em conta a diversidade das crenças”.
Mas, apesar da regulamentação que contempla a universalidade das crenças ao nível da assistência espiritual religiosa nos hospitais no Serviço Nacional de Saúde, isso não está realizado”, lamentou.
A Igreja católica está presente nos hospitais, mas é necessário que "todos os doentes tenham a possibilidade de ter atempadamente a assistência espiritual religiosa que necessita”, sendo preciso encontrar formas para que isso aconteça, defendeu.
O responsável pelas capelanias hospitalares explicou que existe o serviço de assistência hospitalar religiosa, mas é necessário que este integre outras religiões, outras comunidades religiosas. Mas é preciso perceber como essa integração pode ser feita, porque ao nível da lei, não está regulamentada a nomeação dos capelães católicos, sendo às vezes muito difícil a sua substituição, bem como a acreditação de líderes de outras religiões.
“Aquilo que acontece depois, ao nível da realidade concreta das unidades hospitalares, é que há formas arbitrárias muito diferentes e se há instituições que de facto abrem portas há outras instituições que ficam assim, assim”.
Na conferência, o padre Fernando Sampaio defendeu que é preciso criar novos modelos de assistência. “O capelão apaga fogos, tem dificuldades em fazer um acompanhamento personalizado”.
Questionado pela Lusa se isso se deve a não haver assistentes espirituais em número suficiente, afirmou que é um problema que deriva de um determinado pensamento ao modelo de assistência espiritual religiosa que se centra em atos religiosos.
“Esse modelo não serve para a saúde, é necessário olhar de outro modo, valorizando a espiritualidade como uma necessidade importante no bem-estar e na qualidade de vida dos doentes e nesse sentido para ter assistentes espirituais que possam acompanhar os doentes e a ter tempo para estar com eles é necessário outro modelo”, defendeu.
À margem da conferência, Ana Querido, da Escola Superior de Saúde de Leiria, afirmou aos jornalistas que há poucos assistentes espirituais disponíveis nos hospitais por número de camas.
“Sabemos que um capelão hospitalar para 400 camas fica muito aquém daquilo que é a expressão das necessidades espirituais dos doentes”, precisou.
Ana Querido alertou que os profissionais precisavam de ter, além da formação básica dirigida a espiritualidade, formação diferenciada e formação avançada para poderem fazer face a este tipo de necessidades.
Contudo, na sua opinião, isso não dispensa a existência dos assistentes espirituais.
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