Alain Cocq sofre de uma doença extremamente rara e sem nome, que faz as paredes das suas artérias se colarem, causando "isquemia", ou seja, uma paragem ou insuficiência da circulação sanguínea, em um tecido, ou órgão.

Paralisado por dores incessantes há 34 anos, condenado a permanecer na cama, Cocq gostaria de receber uma sedação profunda, algo que a lei francesa não permite, exceto quando se está a poucas horas da morte certa.

"Decidi dizer chega", explicou esse homem à AFP, que passou por nove operações em quatro anos e é vítima de descargas elétricas a cada "dois ou três segundos".

"Os meus intestinos esvaziam numa bolsa. A minha bexiga esvazia numa bolsa. Não me posso alimentar, então alimentam-me como um ganso, com um tubo no meu estômago. Não tenho mais uma vida decente", disse.

Cocq escreveu ao presidente Emmanuel Macron para autorizar um médico a prescrever um barbitúrico e "partir em paz".

"Como não estou acima da lei, não posso concordar com a sua exigência", disse Macron numa carta enviada a Cocq e da qual a AFP obteve uma cópia.

"Não posso pedir a alguém que ignore o atual quadro jurídico", acrescentou o presidente.

Por esta razão, Cocq confirmou a sua intenção de morrer ao parar de se alimentar, hidratar e se tratar - exceto para aliviar a dor - a partir desta sexta-feira, "na hora de dormir". "Com emoção, respeito a sua iniciativa", disse Macron na sua carta, que inclui uma frase manuscrita: "Com todo o meu apoio pessoal e o meu profundo respeito".

Para "mostrar aos franceses qual é a agonia imposta pela lei", Cocq vai transmitir o fim da sua vida, que estima durar "quatro a cinco dias", a partir do sábado, quando acordar, "ao vivo" na sua página do Facebook.

Cocq espera que a sua luta sobreviva a ele e que, no futuro, seja adotada uma legislação que permita os cuidados no fim da vida para evitar "sofrimento desumanos". "A minha luta prolongar-se-á no tempo", afirma.