Oito em cada dez pessoas com hepatite C não sabem que estão infetadas, porque a doença não tem sintomas e caminha silenciosamente até à cirrose ou ao cancro, alertou, na passada sexta-feira, a presidente da Associação SOS Hepatites.

Por isso, é fundamental que todas as pessoas peçam ao médico de família para fazer o rastreio, de forma a detetar atempadamente uma infeção que, a cada 30 segundos, mata uma pessoa no mundo, acrescentou Emília Rodrigues, em declarações à Lusa.

A sensibilização do público em geral para a importância do rastreio é o foco da campanha que vai ser lançada no dia Internacional das Hepatites, que se assinala sábado, pela associação que apoia estes doentes.

A iniciativa “Da Hepatite ao Cancro” tem ainda como objetivo revelar a estreita proximidade entre a infeção e o cancro no fígado – mais de 60% das mortes por este cancro estão relacionadas com o vírus da hepatite C -, que pode ser potenciada pela ausência de tratamento.

“A hepatite é uma inflamação do fígado. Há vários tipos de hepatite, da viral à alcoólica, e todas elas podem desenvolver cirrose e cancro de fígado. A hipótese de não chegar a esse ponto é diagnosticar a doença o mais cedo possível”, afirmou.

De acordo com a responsável, o vírus pode estar ativo no organismo durante 40 anos, sem sintomas. Há um “grupo de risco” que são os ex-combatentes, devido a uma injeção que levavam, antes de ir para África, com a mesma agulha.

Emília Rodrigues explica que é mais difícil levar as mulheres a fazer o rastreio, porque a hepatite é uma doença que está muito conectada com álcool, droga e sexo, comportamentos mais associados aos homens.

Mas se é verdade que estes são fatores de risco, há muitos outros, desde logo o contágio por pessoas infetadas que desconhecem ter a doença.

Entre as mulheres, há dois grupos mais suscetíveis a ter a infeção: as que fizeram abortos e as que foram mães antes de 1992, por terem levado transfusões e pontos, explicou.

Emília Rodrigues afirma que não há números exatos sobre a infeção, mas sabe-se que a doença está a aumentar entre toxicodependentes e que, na restante população, se estão a descobrir novos casos.

A Organização Mundial de Saúde estima que em Portugal existam 120 mil pessoas com hepatite B e 170 mil com hepatite C.

Os últimos dados contabilizados pela SOS Hepatites, relativos a 2010, dão conta de que, só nesse ano, morreram 49 doentes devido à hepatite, 33 com cirrose e 16 com cancro.

A presidente da associação chama a atenção para o facto de o tratamento disponível para a infeção ter mais de 60% de hipóteses de cura.

20 de maio de 2012

@Lusa