O estudo, que vai ser hoje apresentado e a que a Lusa teve acesso, sugere alterações aos processos em ensaios clínicos para os fomentar e agilizar, um programa para atrair centros de inovação tecnológicos e propõe um trabalho em conjunto com os reguladores para que os dados de saúde disponíveis possam gerar valor, garantindo a privacidade dos utentes.

O trabalho desenvolvido, que envolveu todos os associados do Health Cluster Portugal (HCP), identificou cinco tendências na saúde que deverão ser prioritárias: o financiamento com base em resultados (e não pelo número de atos) e o aproveitamento de dados; o paciente mais informado e que participa na decisão, o envelhecimento ativo – com prevalência de doenças crónicas -, a capacidade de partilhar inovação e a saúde digital, com a integração de dispositivos e dados para modelos de cuidados de saúde inovadores e à distância.

“O importante é pormo-nos a caminho todos em conjunto. Neste trabalho juntámos todos os ‘players’ para perceber o potencial que o setor representa e, com base nesse potencial, definir um caminho para o começar a trilhar”, disse à Lusa o presidente do Health Cluster Portugal, Salvador de Mello.

Reconhecendo que o setor da saúde “tem uma importância crucial” e “contribui para as exportações de forma significativa”, o responsável sublinhou que o caminho traçado neste trabalho e os objetivos a atingir “não se consegue de um dia para o outro”.

“O setor da saúde um Portugal tem uma importância crucial no emprego qualificado, contribui para as exportações de forma muito significativa (…). As exportações em saúde já são cerca de 1.8 mil milhões de euros e consideramos que é possível ultrapassar os três mil milhões de euros”, afirmou.

O estudo, que vai ser apresentado na 10.ª conferência do HCP, subordinada ao tema “Levantar o véu sobre o futuro da saúde e dos cuidados de saúde”, pretende definir uma visão e uma estratégia para o setor em Portugal.

Com base nas tendências identificadas, o estudo aponta quatro áreas de intervenção: Inovação, Industrialização, Digitalização e Dados.

“Na inovação é importante promover a colaboração e translação em investigação e desenvolvimento, na industrialização há um potencial significativo em Portugal e aqui é preciso apoiar investimento estrangeiro e reforçar a cooperação entre as empresas portuguesas”, explicou.

Salvador de Mello destacou ainda a necessidade de “apostar mais nas exportações e na internacionalização da indústria portuguesa, com um reforço do investimento português e na sua capacidade de internacionalização” e, na área da digitalização, frisou a importância de “acelerar a expansão do ecossistema digital”.

“É preciso extrair valor a partir dos dados. Há muita produção de dados em Portugal que não estão a ser devidamente aproveitados e há aqui um potencial importante de transformar dados em valor”, acrescentou.

O responsável considera que a digitalização “cria desafios muito significativos no aproveitamento dos dados” e sublinha: “É preciso trabalhar em conjunto com os reguladores para fazer as coisas bem feitas e não haver problemas na utilização dos dados. (…) O que tem de ser feito é um aproveitamento, assegurando a privacidade dos dados individuais, pois isso é fundamental para a garantia dos direitos das pessoas”.

Com esta visão e estratégia, os autores do estudo acreditam que o setor da saúde em 2030 poderá ser um dos mais dinâmicos e competitivos, funcionando como um pilar das exportações nacionais, com maior acesso a cuidados de saúde inovadores, um conjunto de dados que guiam as decisões terapêuticas e que são diferenciadores para a investigação e com uma qualidade de produtos e serviços reconhecida a nível internacional.

O Health Cluster Portugal tem mais de 170 associados, com cerca de 279 mil postos de trabalho e 27 mil milhões de euros de volume de negócios. Tem como objeto principal a promoção e o exercício de iniciativas e atividades para consolidar um polo nacional de competitividade, inovação e tecnologia de vocação internacional.

Criado em 2008, o HCP pretende ainda promover e incentivar a cooperação entre as empresas, organizações, universidades e entidades públicas, com vista ao aumento do volume de negócios, das exportações e do emprego qualificado nas áreas económicas associadas à saúde, bem como à melhoria da prestação de cuidados de saúde.