A falta de organização a nível nacional e a vontade política levam a que haja poucos ensaios clínicos em Portugal, disse ontem à Lusa José Dinis Silva, responsável pela Unidade de Investigação Clínica do IPO do Porto.
“Há poucos ensaios clínicos em Portugal, por razões de organização nacional, organização hospitalar e por organização a nível das estruturas internas dos hospitais”, afirmou o especialista, à margem de um debate sobre ensaios clínicos promovido pelo Centro de Apoio a Doentes com Cancro da Mama ‘Mama Help’.
Para José Dinis Silva, os ensaios clínicos geram competição entre os países, especialmente porque os próprios investigadores acreditam que “podem trazer vantagens aos doentes”.
“Como é competitivo, se formos bem organizados e rápidos, quando é dado o tiro de partida, estamos todos nas mesmas circunstâncias”, salientou.
Porém, “até agora os investigadores em Portugal falavam muito pouco uns com os outros e os ensaios para virem para Portugal precisam de economia de escala, ou seja, não basta haver um centro muito bem organizado, tem de haver cinco ou seis”, referiu.
“Os ensaios são muito caros e fazer um ensaio não é para um centro mas para o país. Se houver só um centro [em Portugal], optam por Espanha”, sustentou o clínico.
Além disso, acrescentou, há em Portugal “falta de organização e vontade política”, que, apesar de ter vindo a crescer, ainda assiste a uma “decaláge no tempo”, pelo que falta ao país demonstrar que é bom num ensaio clínico, que é capaz de recrutar e cumprir com o programa.
“Só a seguir somos convidados para mais”, explicou.
Em Portugal, a oncologia “representa 30 por cento dos ensaios clínicos e é de longe a especialidade que está mais representada”.
Dentro da oncologia, assiste-se a várias realidades, sendo que “nos casos de cancro do pulmão o país está presente nos ensaios clínicos de primeira linha a nível mundial”.
Há outras patologias que "são mais difíceis até porque as realidades da própria patologia levam a que seja mais difícil”, como o caso do cancro da mama, “uma doença muito longa com ensaios clínicos a demorar quatro, cinco a seis anos”, explicou.
A isto acresce o facto de que “é mais fácil colocar doentes em ensaios clínicos em doenças terminais, quando não há mais nenhuma alternativa”.
Os ensaios clínicos são estudos destinados a melhorar vários aspetos ligados aos cuidados dos doentes e fazem parte da rotina dos centros especializados no tratamento do cancro.
São os resultados de ensaios clínicos prévios que dão aos médicos a informação necessária para tomar decisões quanto aos tratamentos que utilizam hoje e que os ajudam a obter melhores resultados, comparativamente aos tratamentos que faziam antes.
A maioria dos ensaios clínicos relaciona-se com novos tratamentos ou diferentes formas de administrar, como, por exemplo, novas técnicas cirúrgicas ou novos medicamentos.
14 de abril de 2011
Fonte: SAPO
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