Centenas de profissionais de saúde deverão nos próximos meses ir trabalhar, alguns gratuitamente, nos serviços públicos onde é mais gritante a falta de pessoal, naquela que será uma das primeiras iniciativas da Fundação Serviço Nacional de Saúde (FSNS).

Em entrevista à Agência Lusa, o antigo diretor geral da Saúde Constantino Sakelarides, que é o “rosto” da FSNS, revelou que tem recebido “dezenas” de contactos de profissionais de saúde que, desta forma, querem ajudar o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Sakelarides faz, desde logo, uma ressalva: “A Fundação não pretende, dessa forma solidária, resolver os problemas do SNS”.

“Esta é uma forma específica para responder a uma crise, em que as soluções rápidas não podem ser encontradas logo”, adiantou.

Ao mesmo tempo que a FSNS – apresentada no passado dia 26 de outubro - constitui os seus corpos sociais, alguns dos seus elementos estão a fazer contactos, a nível nacional e regional, para avançar com a bolsa de recursos humanos solidários.

Destes contactos resultou a convicção de Sakelarides de que serão centenas os profissionais de saúde que, dentro de meses, avançarão para várias zonas do país, nomeadamente aquelas mais desprovidas deste pessoal.

“Há pessoas que, como eu, estão dispostos a dar uma percentagem do meu tempo, gratuitamente. Outras não poderão fazê-lo gratuitamente, mas podem ter uma opção solidária”, explicou.

Para dar vida a esta bolsa solidária, a fundação vai mobilizar essas pessoas, fazer um acordo com elas e um protocolo com o SNS para utilizar estes profissionais “pelo menos no período que a crise determina”.

A colaboração pode dar-se na forma de produção de trabalho clínico (consultas) e deverá ocorrer em zonas que as Administrações Regionais de Saúde identifiquem como mais carenciadas.

“Há regiões do país que são carenciadas de profissionais e são complexas em termos de necessidades sociais, por se tratarem de zonas de baixo nível sócio económico, com muito desemprego e pessoas que precisam de ser apoiadas pelo SNS, mas os recursos são escassos e não podem ser aumentados rapidamente”, disse.

Neste grupo de voluntários estarão alguns dos cem subscritores da FSNS, entre os quais Constantino Sakelarides, que já se disponibilizou a dar 20 por cento do seu tempo para a fundação.

A maior parte não será paga, mas o especialista em saúde pública admite que, noutras categorias profissionais, poderá ser necessário algum pagamento, mas “nunca será o SNS” a fazê-lo.

Tal como os outros, o projeto terá de ser apoiado financeiramente, o que deverá acontecer através de instituições.

“A FSNS tem uma gestão quase virtual. Não queremos direções, instalações, nem coisas complicadas. Falamos virtualmente e reunimos de vez em quando, mas não queremos uma instituição no sentido físico do termo, além dos corpos sociais não serem pagos”, disse.

Com esta iniciativa, Sakelarides acredita que se concretiza um dos principais objetivos da fundação, que tem nos subscritores figuras como antigos ministros da Saúde e figuras emblemáticas como o “pai” do SNS, António Arnaut: Dar ao cidadão um papel importante para “sair desta situação de castigo”.

03 de fevereiro de 2012

@Lusa