O investigador Filipe Duarte Santos, da Universidade de Lisboa, e presidente do Conselho Nacional para o Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, disse à Lusa que o fim do diesel trará melhorias na qualidade do ar, mas só haverá efeito se "diminuir a tendência para a utilização de combustíveis fósseis".

O "carbono negro", ou a fuligem provocada pela combustão de diesel, também contribui para o aquecimento global, quando, por força dos ventos, vai parar aos picos gélidos "dos Himalaias ou dos Alpes, por hipótese", escurecendo-os, fazendo aumentar a radiação e a temperatura.

O presidente da associação ambientalista Quercus, João Branco, disse à Agência Lusa que o fim do diesel trará "uma melhoria enorme para a qualidade do ar nas cidades".

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Passar do diesel para energias limpas, como os carros elétricos, vai diminuir a presença no ar de "partículas sólidas que se acumulam nos pulmões", mas o impacto do fim do diesel a nível global "vai depender da velocidade a que se muda da produção de energia a partir de fontes fósseis para fontes renováveis", considerou.

Filipe Duarte Santos explicou que a combustão do diesel liberta "partículas finíssimas" para a atmosfera e que quando estas se depositam em zonas de glaciares, ficam a absorver radiação e a gerar calor que os derrete.

Dez mil mortes prematuras por ano

Em setembro deste ano, investigadores noruegueses, austríacos e suíços publicaram um estudo em que identificavam o excesso de emissões do cancerígeno óxido de nitrogénio dos motores de veículos a gasóleo como responsável por dez mil mortes prematuras por ano na União Europeia, Noruega e Suíça.

Metade dessas mortes, de doenças respiratórias e cardiovasculares, decorria do desrespeito das marcas pelos limites do óxido de nitrogénio permitidos.

Com cem milhões de carros a gasóleo em circulação só na Europa, a proporção é o dobro do resto do mundo, concluíram os investigadores.

Filipe Duarte Santos lembrou que "80% das fontes de energia primária vêm do carvão, petróleo e gás natural", a mais poluente das quais é o carvão.

João Branco salientou que na progressão dos carros de combustão interna para carros elétricos tem que ser acautelada a produção de energia elétrica, que ainda depende de fontes altamente poluentes, como o carvão.

"As energias renováveis, excetuando a solar, hoje ainda não são competitivas em termos de valor de mercado, se desse lucro produzir energias renováveis já ninguém queimava carvão", apontou.

"Se amanhã fossem proibidos os carros de combustão interna e todos passassem a ser elétricos, a qualidade do ar nos centros urbanos ia melhorar mas não há um sistema energético preparado, não haveria capacidade de fornecer energia elétrica a todos esses carros", ilustrou.