A unidade socio-ocupacional criada há 18 anos - num espaço cedido gratuitamente por um grupo de profissionais da área da saúde e por familiares de doentes que se constituíram numa associação, a Farpa - é manifestamente insuficiente para as necessidades.
Com capacidade para acolher 10 pessoas, conseguir responder a todas as solicitações seria como ter “uma varinha mágica extraordinária”, disse à Lusa a diretora técnica da Farpa - Associação de Familiares e Amigos do Doente Psicótico, a psicóloga Liliana Silva.
Em projeto está a construção de uma unidade nova, com capacidade para 30 pessoas. A Câmara de Santarém cedeu o terreno, próximo da Escola Superior de Saúde, e fez o projeto arquitetónico, mas falta o financiamento, da ordem dos 700.000 euros.
“Estamos a aguardar a abertura de candidaturas ao Portugal 2020 para beneficiar de financiamento, que não será na totalidade. Vamos ver. Cada dia por si”, disse à Lusa Cidália Assunção, técnica superior de serviço social no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital de Santarém e vice-presidente da associação.
Num estudo recente realizado pelas Plataformas Supra Concelhias da Lezíria e do Médio Tejo, cuja equipa a Farpa integrou, concluiu-se que as duas sub-regiões, com uma população de perto de meio milhão de habitantes, apresentam um número crescente de casos diagnosticados de doença mental e uma enorme falta de serviços que evitem os reinternamentos e permitam a reabilitação.
Mariana Bailão frequenta a unidade da Farpa há dois anos. Com 26 anos, está reformada porque a doença a impede de trabalhar.
“Aqui é um trabalho. Fazemos muitas atividades, muitas coisas que nos fazem sentir úteis e fazem esquecer que a doença existe”, disse à Lusa, realçando a sensação do que foi voltar a sair, a passear, a ter férias ou mesmo a fazer voluntariado.
Liliana Silva destaca a grande “generosidade” da comunidade, não só pela cedência gratuita do espaço, como pelas parcerias que têm permitido multiplicar e alargar o âmbito das atividades proporcionadas e envolver a equipa e os doentes em ações de voluntariado em que “todos vestem a mesma camisola” e trabalham lado a lado.
Essa é parte de outra tarefa assumida pela Farpa, a de “partir a pedra enorme que é o estigma associado à doença psiquiátrica", sublinhou.
E, nessa tarefa, os técnicos multiplicam-se em idas às escolas e a dar palestras na comunidade, recebem estagiários, lançam campanhas e concursos, realizam espetáculos, respondem positivamente a todos os convites, envolvendo doentes e famílias.
“Em todas as iniciativas passamos um vídeo promocional, não da instituição, mas da saúde, de combate ao estigma. Cada pessoa que compra um bilhete e que assiste tem sempre que levar com a mensagem inicial. E conversamos sobre o assunto”, disse.
Vai ser assim no próximo dia 06, na primeira “noite contra o estigma” que se vai realizar na discoteca Horta da Fonte, no Cartaxo, com a participação dos DJ Vassalo, Kristof e Gonçalo Henriques, e no espetáculo de António Raminhos “As Marias”, marcado para 20 de maio no auditório do CNEMA, em Santarém.
Esta foi uma parceria proposta à Farpa, tal como o voluntariado durante a Scalabis Night Race – em que distribuíram água aos cerca de 4.000 participantes -, com o duplo benefício de estar em equipa (doentes e famílias trabalharam em conjunto) e de conseguir algum financiamento para juntar ao “sempre curto” apoio recebido enquanto instituição particular de solidariedade social.
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