Pereira Coelho, ex-membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e professor da Faculdade de Medicina de Lisboa disse, durante o programa "Flash 7 Dias", da RTP Internacional, ter assistido a alguns casos de eutanásia na sua vida profissional nos hospitais.

Para Rui Nunes, trata-se de “declarações particularmente graves” por diferentes motivos.

“Por um lado, gera uma enorme confusão junto da população confundindo aquilo que não deve ser confundido. Confunde-se eutanásia – isto é tirar a vida de alguém a seu pedido consistente e reiterado por se encontrar em profundo sofrimento, e que é um crime em Portugal – com outras práticas nomeadamente a suspensão ou abstenção de tratamentos fúteis e desproporcionados”, disse.

Por outro lado, acrescentou, “se alguém presenciou casos de verdadeira eutanásia tem a estrita obrigação ética de os denunciar às autoridades competentes, nomeadamente à Ordem dos Médicos”.

Para Rui Nunes, “estas e outras denúncias reforçam a necessidade de a Ordem dos Médicos estabelecer normas de orientação claras e consistentes a propósito da morte medicamente assistida”.

O especialista em bioética reitera “a necessidade urgente de promover um debate aberto e plural sobre a temática da morte assistida de modo a que os portugueses fiquem cabalmente esclarecidos sobre esta temática”.

No domingo, o bastonário da Ordem dos Médicos desdramatizou as afirmações sobre morte assistida do médico António Pereira Coelho à RTP, precisando que tais declarações não se referem à eutanásia ativa, pelo que não se justifica qualquer "alarme social".

Desde que um grupo de personalidades assinou um manifesto em defesa da eutanásia, Rui Nunes tem defendido um debate “sério e profundo” na sociedade portuguesa sobre este tema, sublinhando “a necessidade de auscultar a população portuguesa em referendo, bem como a classe médica e outros profissionais de saúde, que poderão estar confrontados num futuro próximo com questões muito delicadas nos campos da ética e deontologia médicas”.

Pereira Coelho, conhecido como o "pai do bebé proveta", admitiu já ter vivido a situações de morte assistida.

"Posso dizer que já assisti a alguns casos destes na minha vida profissional nos hospitais”, disse.

Entretanto, numa resposta enviada à Lusa, a Procuradoria-Geral da República referiu que "o Ministério Público não deixará de analisar as declarações em questão" e que "sempre que tem conhecimento de factos suscetíveis de integrarem a prática de crime, age em conformidade, através da instauração do competente inquérito".

A Lusa contactou Pereira Coelho, mas o médico não quis prestar declarações sobre o assunto.